Crítica: 12 Horas para Sobreviver – O Ano da Eleição
Desde seu primeiro capítulo, a franquia The Purge, antes intitulada nacionalmente como Uma Noite de Crime, deixa a sensação de que abusa de sua própria estadia nos cinemas. Seu conceito central, apesar de maniqueísta e tolo, sempre guardou bastante potencial para caso fosse explorado de maneira mais cômica ou autoconsciente. Mas o diretor e roteirista James DeMonaco aparenta não aprender com as próprias fraquezas, afinal seus filmes são surpreendentemente rentáveis em solo norte-americano, o último destes sendo 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição.
Uma semi-sequência para o razoavelmente tragável Noite de Crime: Anarquia (lançado por aqui diretamente em homevideo), este capítulo traz o retorno do carismático Frank Grillo (Wheelman) como o chuta-bundas rouco Leo Barnes, que em Anarquia quase desceu ao mais baixo nível de desumanidade ao procurar por vingança naquela noite de crime anual. Barnes agora defende a candidata à presidência Charlie Roan (Elizabeth Mitchell, a Juliet de Lost), que cerca de 20 anos depois da implementação da Noite pelos caricatos Novos Pais Fundadores, quer pôr um fim a esta medida. Isto bota um alvo em suas costas e Barnes deve ajudá-la a sobreviver à Noite.
Ah, e se você está por fora, a noite de crime (ou expurgação) é o período de 12 horas no qual qualquer crime é permitido, sem represália da lei. Um conceito absurdo, certo? Agora imagine o que uma contextualização pobre faz por um filme que gira em torno desta tão séria “crítica social”.
Semelhante aos dois primeiros longas, este Ano da Eleição está convicto de que irá convencer o espectador sobre quão ruim a Noite de Crime é (caso não tenhamos já percebido desde o anúncio do primeiro longa). Esta atitude apenas evidencia o cinismo patético que DeMonaco tem em relação ao seu público, inclusive apresentando caricaturas tão grosseiras da direita republicana que farão até mesmo o democrata mais fervoroso torcer o nariz. Ou seria uma caricatura da caricatura? Nunca fica claro.
Outra coisa: se há de se fazer uma crítica social, certifique-se pelo menos de que será bem embasada e apresente argumentos que condigam com a realidade, ou pelo menos retratem suas personagens condutoras com maior atenção às áreas cinzentas e os aspectos menos óbvios. Há até mesmo tentativas de comentário racial que persistem durante o longa todo, e estes comentários são tão profundamente maduros quanto algo lido em uma redação de ENEM escrita por um jovem cuja rotina é ficar dentro de sua sofisticada casa assistindo à (nova) MTV.
Com uma montagem desatenta e uma fotografia inexpressiva, 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição não satisfez nem os meus mais ligeiros desejos por ação e (sim) violência. Ironicamente moralista e sanguinário ao mesmo tempo, o longa poderia ter tido pelo menos o apelo de alguns dos antigos exploitation produzidos por estúdios como a Troma, sem se levar a sério e construindo algum tipo de empatia idiossincrática com suas personagens (mesmo que eu deteste o gênero exploitation no geral). É apenas mais uma tentativa fracassada de DeMonaco para provar quão edificante e provocadora sua criação é.
Com uma prequel e uma série de TV anunciadas, James DeMonaco parece querer focar maior atenção às motivações das personagens desta vez, o que pode conferir um pouco mais de peso aos novos capítulos. Afinal, séries como Black Mirror provam que o conceito mais absurdo e desumano pode vir acompanhado de uma dose de plausibilidade, se apresentado um contexto convincente. A franquia The Purge, do jeito que está, não aprendeu nada e continua insistindo em longas pobríssimos destinados apenas a arrancar dinheiro de curiosos. Porém vou dar a DeMonaco, que roteirizou o bom A Negociação, o benefício da dúvida. Vamos, James, me surpreenda.