Crítica: O Vendedor de Sonhos
Augusto Cury, escritor renomado mundialmente por seus livros, agora se rendeu ao cinema e a uma nova maneira de contar suas próprias histórias. A primeira obra escolhida para ser adaptada foi O Vendedor de Sonhos, best-seller e primeiro capítulo de uma trilogia que vendeu mais de 3 milhões de exemplares, já traduzido para 60 línguas. Como a temática de seus livros é a auto-ajuda, o filme não foge disso; pelo contrário, abraça completamente este gênero que fará sucesso entre os fãs de literatura e de histórias inspiracionais.
Em O Vendedor de Sonhos, temos dois grandes atores guiando o espectador: Dan Stulbach e César Troncoso, que interpretam Julio César e “Mestre”, respectivamente. Julio César é um renomado psicólogo que se encontra desiludido na vida por conta de problemas familiares, e não sabe como agir frente a tais problemas. Quando vai até o parapeito do prédio onde trabalha e pretende se suicidar, a pessoa mais improvável aparece: o mendigo Mestre, que tenta ajudá-lo com suas palavras – e acaba conseguindo. “Uma vírgula” é o que ele tem a oferecer para Julio, que acaba aceitando o sonho de recomeçar e de retomar sua vida. Intrigado e curioso para descobrir mais sobre quem é o Mestre, Julio o acompanha na missão de levar amor, esclarecimento e esperança a todos aqueles que precisam das palavras certas.
Com a direção de Jayme Monjardim e roteiro de LG Baião com colaboração de Cury, O Vendedor de Sonhos tinha tudo para ser um filme nacional completo em 2016: possui um enredo diferente, personagens complexos e uma equipe competente. O roteiro possui muitos elementos da psicologia e critica duramente a sociedade capitalista – e até mesmo a ditadura da moda. Contudo, infelizmente ele peca ao inserir inúmeras frases de efeito que acabam soando forçadas na narrativa, como se fossem inseridas apenas para impactar (o que de certa forma acontece, mas não todas as vezes). Narrativa essa que ora acelera, ora diminui o ritmo, deixando o filme sem muita fluidez.
Mas quanto à grandeza da mensagem que a obra passa, isso não dá para ir contra. Com os temas citados acima, dificilmente o espectador não sairá da sala de cinema refletindo, porque além de serem abordados assuntos atuais, eles são importantes para o bem estar da sociedade – e às vezes podem até passar despercebidos no dia a dia. No ponto da reflexão, o filme acerta em cheio, deixando claro que não era preciso tantas frases positivas “prontas” que os espectadores certamente já estão familiarizados.
Além disso, o modo como Jayme Monjardim e Nonato Estrela exibem as diferenças das classes sociais por meio da fotografia é outro detalhe que vale a pena observar. A grandeza e imponência dos prédios no centro comercial de São Paulo, comparada à simplicidade do subúrbio, foi bem explorada neste contexto de diferenças sociais.
No mais, Dan Stulbach e César Troncoso são a força de O Vendedor de Sonhos e entregam atuações inspiradas – principalmente Troncoso. A transmissão das ideias do Mestre são passadas com clareza e emoção pelo ator (a única ressalva que tenho é relacionada à desconstrução do personagem que acontece perto da conclusão, mas isso não foi culpa do ator, e sim da maneira como a cena foi feita), enquanto Stulbach traz essa mesma emoção em seus olhares, de maneira muito simples e ao mesmo tempo verdadeira.
O interessante é que, por mais que os livros de Cury sejam considerados como auto-ajuda, o filme vai além disso. Abordando os temas citados e incluindo o suicídio como problema social, O Vendedor de Sonhos é uma obra que inspira o espectador a pensar e valoriza a capacidade de superação do ser humano.
Como o próprio Jayme Monjardim afirmou, “o verdadeiro protagonista de O Vendedor de Sonhos é palavra”. E, mesmo com alguns defeitos e tropeços, sua mensagem ainda é clara e definitivamente merece ser ouvida.
Veja a entrevista que fizemos com a equipe do filme clicando aqui!
FICHA TÉCNICA
Elenco: César Troncoso, Dan Stulbach, Thiago Mendonça, Kaik Pereira, Leonardo Medeiros, Guilherme Prates, Malu Valle
Direção: Jayme Monjardim
Roteiro: LG Baião com colaboração de Augusto Cury
Direção de Fotografia: Nonato Estrela
Direção de Arte: Lara Tauz
Montagem: Gustavo Giani
Produção: LG Tubaldini e André Skaf
Produção Executiva: Heloisa Rezende e Valéria Amorim
Distribuição: Warner Bros. Pictures e Fox Film do Brasil