Crítica: Quatro Vidas de um Cachorro
O propósito de um cão nunca foi só brincar, dormir e comer. O propósito real é o laço infindável entre o animal e seu dono – tema amplamente abordado em filmes como Marley & Eu, Sempre ao Seu Lado e Meu Cachorro Skip, e que novamente encontra forças no novo longa do diretor Lasse Hallström.
Adaptação do livro homônimo de W. Bruce Cameron, Quatro Vidas de Um Cachorro acompanha as diferentes aventuras de Bailey (muito bem narrado por Josh Gad) e explora quatro realidades que um cão pode viver, sendo construído inteiramente pelo ponto de vista do animal. A câmera subjetiva que faz o público ver os humanos e ambientes pelos olhos de Bailey, a narração em off com todos os seus pensamentos ingênuos sobre o que está à sua volta e a maneira como enxerga o mundo já são elementos conhecidos pelo público, mas aqui eles não caem em meros clichês pois a história é extremamente bem montada e interligada. O primeiro dono de Bailey foi Ethan e, mesmo após viver com outros donos em suas outras três vidas, ele sente que sua missão em vida é estar ao seu lado e ajudá-lo da forma que puder. Seja como um Golden Retriever, um Pastor Alemão, um Welsi Corgi ou um São Bernardo, a cada reencarnação Bailey volta mais amadurecido, mais esperto, e com a memória completa de seu passado – mas ainda mantém a mesma inocência de antes, que comove sem o mínimo de esforço.
O filme se encontra no mesmo patamar de Marley & Eu quando o assunto é emocionar; porém, ele vai além disso por não focar apenas na morte em si, e sim em sua vida em uma visão ampla. O protagonista Bailey é carismático e faz com que o espectador sinta empatia e curiosidade, tornando-o um protagonista que rouba a cena (independente das boas atuações de Dennis Quaid, Britt Robertson e John Ortiz).
Esse diferencial é o que faz de Quatro Vidas de um Cachorro um filme único, que não manipula o público para o mesmo se emocionar a todo o momento. É claro que, para quem tem ou já teve um animal de estimação, a emoção vai tomar ainda mais conta da experiência, mas só pela abordagem diferenciada e pelas boas doses de comédia (um dos pontos altos da história) serem elementos bem trabalhados, o clima bem-humorado já faz tudo valer a pena.
É interessante notar que cada vida do cão Bailey mostra elementos extremamente reais. Quando nosso protagonista retorna como Ellie, uma cachorra policial de Chicago, o próprio chega a dizer que esta não foi uma de suas vidas mais divertidas; já quando vive na pele do pequeno Corgi, ele nos passa, com sua inocência, detalhes sobre sua dona solitária que sonha em encontrar um amor. Por cada viagem que passa, Bailey ensina aos humanos o valor do amor, do companheirismo e do que realmente importa na vida, e ainda apresenta sua visão e opinião de acontecimentos bons e ruins como animal. As indagações do cão quanto a assuntos sérios como abandono, alcoolismo e violência dão o toque dramático a Quatro Vidas de um Cachorro, e já que a história dá um enfoque maior para a vida de Ethan (afinal, ele é o “verdadeiro” dono de Bailey), alguns dos problemas citados são bem trabalhados no arco dos dois.
A mistura de drama com comédia está perfeitamente balanceada e talvez seja por isso que este seja um filme tão bonito. Ao invés de se apoiar o tempo todo na tristeza da perda de um animal, o rumo que o longa toma vai muito além disso; o bem que os cães fazem em vida ultrapassa qualquer tristeza, e é gratificante ver essa abordagem em um filme. Se você chorou de tristeza por horas (ou dias) com o fim de Marley & Eu, vai se surpreender com a comoção que Quatro Vidas de um Cachorro irradia ao mostrar a importância desses seres extraordinários.
Esse é um filme para se emocionar e refletir muito. Nos faz lembrar que, por mais que os cães não tenham a mesma mente do ser humano, eles nos superam em níveis surpreendentes quando se trata de assuntos simples, como o amor, a alegria e o companheirismo.
NOTA: O Cinematecando foi informado pela Universal que a investigação sobre a acusação de maus-tratos na gravação do filme, levantada na semana passada, já está acontecendo. Portanto, a crítica acima é focada no que vimos como cinema, e não com base no conteúdo divulgado fora dele. Esperamos que tudo corra bem na investigação e que os autores sejam responsabilizados por seus atos.
Direção: Lasse Hallström
Roteiro: Cathryn Michon
Elenco: Britt Robertson, Caroline Cave, Dennis Quaid, Gabrielle Rose, John Ortiz, Josh Gad, Juliet Rylance, K.J. Apa, Logan Miller, Luke Kirby
Produção: Darren Reagan, Gavin Polone, Mark Sourian
Fotografia: Terry Stacey
Trilha Sonora: Rachel Portman
Duração: 120 min.