Crítica: Cinquenta Tons Mais Escuros
Que Cinquenta Tons de Cinza (2015) foi amplamente criticado em questões de roteiro, atuações e direção, muitos já sabem. Sam Taylor-Johnson era a diretora confirmada para comandar as adaptações cinematográficas da trilogia literária de E. L. James, mas mesmo após os altos números de bilheteria, a pressão para que as duas continuações atingissem um nível de qualidade acima do esperado (e melhor do que a da estreia) se tornou grande demais – afinal, só o primeiro livro vendeu mais de 130 milhões de cópias no mundo todo. Taylor-Johnson acabou deixando a cadeira de direção vaga e quem a ocupou foi James Foley (diretor de 12 episódios da série da House of Cards).
Será que a franquia iria fracassar? Essa dúvida pairava no ar, mas agora uma coisa é certa: se há dois anos a trilogia dava a impressão de que não sabia a que veio, a perspectiva se tornou outra. Com a direção de Foley, Cinquenta Tons Mais Escuros ruma a um caminho bem mais interessante, e o melhor: menos forçado, com (pasme!) mais romance do que qualquer outra coisa. E uma boa dose de suspense também!
Em Cinquenta Tons Mais Escuros, Anastasia Steele está separada de Christian Grey após perceber que eles não dão certo juntos por serem tão diferentes, mas… surpresa! Este período não dura muito e Christian volta a aparecer em sua vida. Anastasia sugere um novo acordo e, para sua surpresa, o casal começa a construir um relacionamento “normal”. Neste ponto, a mudança (para melhor) nos personagens principais é nítida, tanto em atuação como em química. Dakota Johnson e Jamie Dornan estão inquestionavelmente mais confortáveis em seus respectivos papéis em basicamente todas as cenas, o que deixa ainda mais claro o bom trabalho de direção. Eles dão mais sinceridade ao romance e às cenas mais quentes, ao mesmo tempo em que o diretor James Foley encontra o tom certo para seu filme sem transformá-lo em algo forçado e sem vida. Anastasia é quem está com mais força na trama, enquanto Christian sente-se mais à vontade para falar sobre seu passado e é quem realmente passa a se entregar.
A inversão que o diretor faz é muito interessante e condiz com o clima do filme, que é cheio de suspense e não foca somente no romance. Ao mesmo tempo que é descontraído, ele não foge dos mais básicos clichês, mesmo que sejam cansativos e cortem um pouco a atmosfera de algumas cenas. O enfoque dado à vida profissional de Ana é um dos pontos altos do filme, pois desenvolve a personagem e também aproveita para encaminhar a narrativa para sua continuação (Cinquenta Tons de Liberdade, que sairá em 2018). Inclusive, é preciso destacar a brincadeira que o roteiro faz em uma cena que ela está no trabalho falando com sua funcionária, onde fala exatamente as mesmas frases que sua mãe, Melanie Griffith, fala ao fim do filme Uma Secretária de Futuro (1988). São por essas pequenas particularidades que Cinquenta Tons Mais Escuros está anos-luz à frente de seu antecessor.
Grande parte dos aspectos positivos da produção vai para o diretor de fotografia John Schwartzman (Jurassic World, O Espetacular Homem-Aranha). Com um visual incrível que dá mais força para as situações, e que sabe trabalhar bem com cores quentes em contraposição às cores cinzas já esperadas (obviamente!), Schwartzman faz um excelente trabalho ao ambientar o espectador dentro da chuvosa Seattle.
O elenco do filme, é claro, não se resume somente ao casal principal. A novidade fica por conta da participação de Kim Basinger como a odiada Elena Lincoln (apelidada de Mrs. Robinson por Ana, uma alusão à personagem do filme A Primeira Noite de Um Homem). Sua participação na narrativa não é muito bem utilizada e não chega a entregar ameaça alguma, mantendo-se apenas nas frases de efeito que fazem uma diferença quase nula no aspecto geral da história. Já a mãe adotiva de Christian, Grace (Marcia Gay Harden), e os irmãos Mia (Rita Ora) e Elliot (Luke Grimes), ajudam o filme a ter o seu toque mais leve, enquanto os personagens Jack Hyde (Eric Johnson), chefe de Ana, e Leila (Bella Heathcote) são os verdadeiros responsáveis pelo clima sombrio que o longa possui.
Os fãs da história de amor entre Christian Grey e Anastasia Steele vão aprovar o novo estilo da franquia, isso é um fato. Já os que reprovam a franquia, seria interessante deixar para trás o que Cinquenta Tons de Cinza entregou, porque de fracasso seu sucessor não tem nada. Cinquenta Tons Mais Escuros é divertido, sabe que não pode – e nem precisa – ser levado 100% a sério (coisa que o primeiro filme tentou mostrar isso exageradamente) e possui uma química surpreendente entre Dornan e Johnson, que fazem uma simples cena se transformar em um resultado convincente e positivo. Queira assistir ou não, saiba que a diversão está garantida!
DICA: Fique no cinema para ver algo bem legal após os créditos!
FICHA TÉCNICA
Direção: James Foley
Roteiro: E.L. James, Niall Leonard
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Luke Grimes, Rita Ora, Victor Rasuk, Kim Basinger
Produção: Dana Brunetti, E.L. James, Michael De Luca
Fotografia: John Schwartzman
Montador: Richard Francis-Bruce
Trilha Sonora: Danny Elfman
Duração: 115 min.
Ano: 2017
País: Estados Unidos
Estreia: 09/02/2017 (Brasil)
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