Destino e comédias românticas

Destino e comédias românticas

Por Mayara Zago

Filmes são perspectivas da realidade. O diretor, roteirista e, em alguns casos, o autor de um livro retratado nas telas é responsável pelas ideias e pelos sentimentos despertados no espectador ao assistir um filme.

Todos nós somos guiados de acordo com o pensamento e o direcionamento do diretor, através de cenas e detalhes que chamam a atenção dos olhares curiosos que desmembram e analisam minuciosamente cada obra lançada no meio cinematográfico.

No gênero de comédia romântica os temas são variados (muitas vezes caindo no sublime conceito de clichê), mas, de uma forma ou de outra, expõem o desejo de algumas pessoas na tela do cinema. Ou simplesmente acabam por apenas produzir mais um filme água com açúcar que visa obter espectadores pelo grande apelo emocional presente na obra.

Ao analisar o gênero, um dos conceitos mais trabalhados é o destino, atrelado ao amor, o qual transmite a ideia das coisas acontecerem por um motivo, sempre levando os protagonistas a se encontrarem e se apaixonarem – ou não.

Destino, coincidência e sinais são palavras que por si sozinhas já intrigam a atenção de quem as lê, escuta ou assiste. Juntas representam um amontoado de significados estabelecidos na nossa cultura: as coisas foram feitas para dar certo e as nossas escolhas não interferem nesse caminho, pois ele é baseado em todas as nossas decisões.

Ao falar desse assunto é impossível restringir apenas à comédia romântica, porque, ao dar um passo para trás e analisar todos os gêneros, é possível ver que, se um minuto ou dois tivessem passado, muitas cenas não teriam acontecido, assim como o desfecho de cada uma.

Mas espera aí. Se as nossas escolhas não afetam nosso caminho porque estão traçadas em nosso destino, como dois minutos a mais fariam a diferença? Simples. Timing (hora certa) é tudo.

Às vezes, se a amiga de Vivian Ward (Julia Roberts) tivesse ido no lugar dela para ver se o milionário Edward Lewis (Richard Gere) queria uma companhia para passar a noite, será que teríamos a nossa famosa história de amor de Uma Linda Mulher (1990)? Não sabemos, mas talvez não.

Mas aí é que está. O talvez é o que confunde e, ao pensar no assunto, ele é o vilão da vida de todos nós. Esse talvez consegue ligar todas as palavras trabalhadas aqui neste artigo e ainda gerar uma confluência de pensamentos, o lógico e o emocional. Estes que na ciência sempre foram tidos como distintos, sempre estiveram dentro de nós de forma clara e totalmente híbrida, alimentando a crença de que as coisas poderiam ser diferentes se algo tivesse acontecido em sua vida. Eu poderia ter escrito de outra maneira ou até pensado diferente, mas será que o resultado em você, leitor, seria o mesmo?

E é este o ponto central deste texto. Filmes exploram muito essa temática, mas na realidade é tudo uma verdade absoluta que passamos a acreditar com o tempo. Inúmeros estudos no ramo científico têm trabalhado esse assunto, principalmente por conta de novas descobertas e suspeitas de viagem temporal e outras dimensões, que inclusive foi retratado na obra Questão de Tempo (2013)… Mas isso é tema para outro artigo.

Filmes como Cartas para Julieta (2010); Agentes do Destino (2011); Escrito nas Estrelas (2001); Casa Comigo? (2010); Mesmo se nada der certo (2013); Para Sempre (2012); Questão de Tempo (2013) e 500 dias com ela (2009) são alguns dos filmes do gênero de comédia-romântica que exploram de alguma maneira em sua trama o destino de seus personagens.

É engraçado quando você começa a pensar no impacto da simples ideia de tudo acontecer por uma razão e no impacto disso na vida de uma pessoa. No filme De Volta para o Futuro (1985) ou até em Efeito Borboleta (2004), é nítido o quão difíceis são as jornadas dos personagens principais para entender isso. No final vale a pena, mas quem disse que tudo não poderia ser diferente?

Talvez se Marty Mcfly (Michael J. Fox) não tivesse conhecido Dr. Emmet Brown (Christopher Lloyd) sua vida poderia não ter se tornado uma sequência de três filmes em busca da paz em sua família e de sua cidade. Se Evan Treborn (Ashton Kutcher) não tivesse se tocado da gravidade de suas ações e do impacto na sua vida, as coisas seriam diferentes? E o mais importante de tudo: se o cinema (partindo do princípio que a ciência não publicasse muito sobre) não demonstrasse essa cadeia de acontecimentos em decorrência de uma ação, hoje, acreditaríamos nessa verdade sem ao menos ter o contato através das obras cinematográficas?

O ponto que eu quero chegar aqui é a maneira como isso é uma realidade próxima de todas as pessoas. Se eu te dissesse que se você virar a esquina à direita você encontrará o amor de sua vida, você acreditaria em mim?

Aí que está, mesmo você negando, eu sei e você sabe que não é bem assim. A maioria do seres humanos são movidos à curiosidade e esse destino/profecia que ronda os pensamentos de todos nós é excepcionalmente abstrato.

O amor mesmo é abstrato e muito excepcional. Quem somos nós para contestar o amor? E o destino? E os filmes com esse enredo?

Está na hora de acabarmos com o preconceito com filmes de comédia romântica. O destino existe? Não sei. E o amor? Tenho minhas dúvidas. Mas, afinal, o que a gente acredita não define quem nós somos?

Mayara Zago