Crítica: Malasartes e o Duelo com a Morte
Como os leitores já devem saber por nossa cobertura da coletiva de imprensa, Malasartes e o Duelo com a Morte é divulgado, principalmente, em cima de seu massivo uso de efeitos especiais digitais, orçados acima dos 5 milhões (valor altíssimo se comparado a outras produções nacionais de porte semelhante). Com direção do veterano Paulo Morelli e grande elenco, o longa gerou a curiosidade de alguns cinéfilos quanto ao resultado final. Agora que o projeto já está pronto e tem estreia marcada para a próxima quinta-feira (10), pode-se dizer que o resultado, infelizmente, é um tanto misto.
Longas nacionais promovidos por seu uso de efeitos não são uma novidade no Brasil: o filme espírita Nosso Lar fez barulho em seu ano de estreia, justamente por trazer vastos ambientes gerados por computação (técnica também conhecida como CGI). Aqui em Malasartes há um equilíbrio maior entre ambientes reais e fabricados, mas a escala ainda atravessa o teto. No entanto, em certos casos, pode-se dizer que menos é mais…
Malasartes e o Duelo com a Morte adapta o personagem folclórico luso-brasileiro Pedro Malasartes para a telona. Interpretado anteriormente pelo gigante da comédia Mazzaroppi, aqui é encarnado pelo jovem ator pernambucano Jesuíta Barbosa, uma escolha pouco usual mas bastante afortunada. O malandro do título é (por acaso?) apadrinhado por ninguém menos que a Morte (o sempre confiável Júlio Andrade). O ceifador, contudo, tem planos para seu afilhado: com a ajuda de seu lacaio Esculápio (Leandro Hassum), pretende trocar de lugar com Malasartes para colocá-lo no eterno fardo que é ser… a Morte. Tal é o fardo por roubar o poder das três Parcas do destino, a mais experiente delas sendo a Cortadeira (Vera Holtz).
Enquanto isso, no mundo dos vivos, Malasartes lida com seu amor por Áurea (Ísis Valverde), que o ama ao ponto de querer colocar o anel no dedo, algo que já aflige o juvenil protagonista. Além do mais, o irmão de Áurea, Próspero (o icônico Milhem Cortaz), está constantemente na cola do malandro, que o deve uma imensa quantidade de dinheiro. Temos, por fim, um amigo inesperado na figura de Candinho (um hilário Augusto Madeira), que acompanha Pedro e Áurea por grande parte da aventura.
Somado à direção confiante de Morelli, o elenco mantém o longa nos trilhos, dando brilho a um script deveras repetitivo. Apesar de um início simpático e bem-estruturado, a maioria das situações acabam por se repetir além da conta, tornando a aventura um bocado previsível. Alguns diálogos e interações, devido à redundância, também poderiam ser enxugados. Em suma, caso Malasartes perdesse 20 minutos de sua duração total, o longa e o espectador sairiam em vantagem. O problema pode ter relação com o fato dos rascunhos iniciais do roteiro terem sido visionados por Morelli como um projeto televisivo, apenas depois tornado em longa-metragem. Vai saber.
Os visuais de Malasartes também tem seus pormenores. Enquanto a fotografia de Adrian Teijido atinge certo esplendor no mundo dos vivos, suas imagens são prejudicadas pelo excesso de efeitos digitais quando no além. Claro, há momentos realmente competentes envolvendo o CGI, mas algumas técnicas tendem a dar um look demasiado artificial à ação, entre elas o borrão gerado para simular profundidade de campo, que ironicamente deixa a paisagem estranhamente achatada. Ainda assim, Teijido traz alguma criatividade para suas movimentações de câmera, com destaque para a troca de eixos na cena de entrada de Malasartes no mundo dos mortos.
Ao fim do dia, fica a leve sensação de que o enredo está em função dos efeitos, e não o contrário. Essa inversão gera visíveis limitações em diversas cenas do além, principalmente no duelo do título. No entanto, as qualidades de Malasartes e o Duelo com a Morte garantem uma recomendação para os amantes do nosso cada vez mais eclético cinema nacional.