OPINIÃO: O empoderamento virou produto nas mãos da indústria cultural
O empoderamento feminino é um assunto que, há muitos meses, está em pauta. Com as mulheres mais conscientes de seus direitos e se unindo para ganhar voz, não é à toa que a mídia começou a nos retratar de maneira diferente. Hoje, é fácil encontrar uma personagem cheia de girl power, que preza pela sua liberdade sexual e fala sobre ‘meu corpo, minhas regras’. E, de fato, eu não consigo mensurar o quanto esse avanço é importante. Mas a verdade é que, apesar de termos mais voz, ainda somos minoria. Só que uma minoria tão forte, que acabou se tornando estratégia do capitalismo. A verdade é que esse empoderamento todo que nós sempre escutamos falar, vende e dá muito dinheiro.
O primeiro exemplo pode parecer bobo, mas é um dos mais visíveis. Se vocês entraram em lojas de departamento nos últimos dias, com certeza deram de cara com coleções de roupas cheias de frases feministas estampadas em jaquetas, blusas, bolsas. Acho importante ressaltar que, com isso, as empresas não estão de boa vontade: a ideia é vender. E uma coisa parecida acontece com a indústria cinematográfica. Desde a sua criação, o cinema já retratou as mulheres de diversas maneiras. Antes, éramos apenas as mocinhas, prontas para serem salvas por algum herói. Agora somos as heroínas. E eu vou dizer mais uma vez: isso é ótimo, é válido, é incrível. Mas toda essa exaltação de uma minoria até então nunca exaltada, se tornou, aos poucos, mais uma mercadoria nas mãos da indústria cultural.
Esses dias eu me peguei pensando que, apesar de termos uma gama gigantesca de personagens femininas fortes, ainda temos poucas diretoras com visibilidade. Casos como o do filme Mulher-Maravilha, protagonizado por uma mulher (Gal Gadot) e dirigido por uma mulher (Patty Jenkins), pode não ser único, mas é raro. Ainda é mais difícil para nós chegarmos em posições altas em Hollywood. Sem contar a diferença salarial dentro desse meio. Em 2015, documentos vazados do estúdio Sony Pictures revelaram grandes disparidades entre atores famosos. No início de 2017, Natalie Portman disse em entrevista que recebeu três vezes menos que o colega Ashton Kutcher na comédia romântica Sexo sem Compromisso. “Comparado a homens, em muitas profissões, mulheres ganham 80 centavos em relação a 1 dólar”, disse Portman à revista Marie Claire. “Em Hollywood, estamos fazendo 30 centavos em relação a 1 dólar”.
Assistir a filmes com mulheres determinadas e que não estão ali apenas pela estética, é maravilhoso. Nós, obviamente, somos suficientes. Mas nem sempre essas produções retratam a dificuldade que passamos para chegar em qualquer posição de destaque. E, quando chegamos, a mídia esquece de contar que corremos o risco de não sermos levadas tão a sério pelo simples fato de sermos mulheres, o gênero que, por anos, foi pintado como o mais fraco. A indústria que nos exalta é a mesma que tende a distorcer completamente a visão de feminismo, falando sobre o poder das mulheres, mas não dando o real espaço que elas merecem para expor as suas experiências e suas visões de mundo.
O que eu quero passar com esse texto é simples, contudo, necessário: se a indústria cinematográfica faz questão de sempre colocar uma personagem forte em suas produções, por qual motivo ainda se fala de diferenças entre homens e mulheres dentro desse meio? Bem, acho que podemos concluir que SIM, o empoderamento virou produto.