Crítica: As duas Irenes
As duas Irenes é um filme de descobertas, para suas personagens e para o público. O longa, que estreia 14 de Setembro, é o primeiro de Fábio Meira enquanto diretor. Exibido no 67º Festival de Berlim, também foi laureado em Gramado neste ano, levando inclusive o prêmio de Melhor Filme pelo júri da crítica. Inspirado por uma história familiar, o roteiro do próprio Meira conta a história de Irene (Priscilla Bittencourt), uma garota que descobre ao acaso a existência de uma meia-irmã de mesmo nome (interpretada por Isabela Torres). Para facilitar a compreensão deste texto, vou tomar a liberdade de chamá-las de Irene 1 e Irene 2, respectivamente.
Embora simples, a trama diz volumes com seu retrato honesto de dois ambientes familiares diferentes. As duas Irenes são filhas do mesmo pai, Tonico (Marco Ricca, brilhante), mas as semelhanças, a princípio, acabam aí. Suas mães não poderiam ser mais diferentes, já que Irene 1 vive com suas duas irmãs em um ambiente exageradamente regrado enquanto Irene 2, filha única, reside de maneira mais simples e despojada. Em certo momento, Irene 1 pergunta a seu pai se o homem gosta da casa onde vive, e Tonico, como se espera, não soa sincero em sua resposta. A ambiguidade que permeia o dia a dia das garotas é muito bem capturada pelos olhos de Meira e torna As duas Irenes em um filme de maturidade significativa.
Maturidade também é algo presente nas interpretações de Bittencourt e Torres, duas grandes descobertas para o cinema nacional. Ambas comunicam as personalidades distintas de suas Irenes com uma naturalidade de dar inveja a atores e atrizes experientes. “Se juntas causa”, sozinhas também são capazes de manter o espectador imerso em seus universos pessoais. O elenco de apoio, que além de Ricca conta com as ótimas Suzana Ribeiro e Inês Peixoto (que tem a cara da filha ficcional), complementa o trabalho das jovens de maneira natural, sem nunca destoar do estilo bastante orgânico que Meira quer empregar na trama. Ah, e a veterana Teuda Bara está simplesmente encantadora no papel de Madalena, empregada da família de Irene 1.
A fotografia da boliviana Daniela Cajías também encanta por valorizar as diferenças estéticas das duas residências e as arejadas locações externas de Goiânia. A casa de Irene 1, principalmente, impressiona com sua atmosfera vintage e até mesmo fantasmagórica, também comunicada na decoração de sets de Mario Surcan (aqueles véus cercando a cama das meninas? Arrepiantes). A música de Edson Secco, por fim, é bastante bem-vinda, apesar de pontual.
O maior acerto, entre tantos, de As duas Irenes acaba por ser o roteiro. Exemplar em sua construção de personagens, a trama também possui momentos de cair o queixo, especialmente seu inesquecível final. Há muito o que discutir sobre essa história que, para a surpresa de todos, dura pouco menos que 90 minutos. Com tantos longas estrangeiros (e nacionais) se perdendo em seus ritmos, Fábio Meira prova saber muito bem o que faz.
Dizer muito mais que isso poderia comprometer uma experiência que se propõe simples. Se você admira cinema, nacional ou não, faça um favor para si mesmo e vá descobrir um dos melhores filmes do ano com As duas Irenes.
As duas Irenes faz parte do projeto Sessão Vitrine Petrobras.
2 comentários sobre “Crítica: As duas Irenes”
Comentários estão encerrado.