X-Men: uma alegoria sobre diversidade e preconceito
Algumas pessoas podem considerar filmes de super-heróis fantasiosos demais. Achar que eles abusam dos efeitos para atrair um público e faturar milhões. Sim, pode até ser. Isso, no entanto, já é um tipo de preconceito, ou um pré-conceito, seja lá como você acha melhor definir. Porém, não é sobre ele que falarei nas próximas linhas e sim de outro que, infelizmente, está cada vez mais presente no nosso dia a dia.
O cinema sempre esteve atento às questões discutidas na sociedade e procurou discuti-las de forma direta e indireta. Nas HQs também sempre foi assim. Histórias de heróis que usavam suas habilidades para deter criminosos já foram usadas para confortar países em tempos de crise, por exemplo. Hoje é normal ver esses personagens estamparem cartazes de seus filmes.
De todos os super-heróis que surgiram nos quadrinhos e migraram para telona, considero a franquia X-Men uma das mais ricas e felizes. E digo isso baseado em dois aspectos: primeiro porque foi ela quem praticamente abriu as portas para outras adaptações cinematográficas do gênero; segundo, e mais importante, ela mostra que esses filmes podem ter um ar fantasioso e, ao mesmo tempo, serem capazes de abordar assuntos sérios, mesmo que nas entrelinhas.
No primeiro filme da franquia, lançado lá em 2000, somos apresentados à jovem Vampira. Ela está sozinha, perdida e deslocada do mundo após descobrir que é uma mutante. Vampira encontra em Logan, e na escola do Professor Xavier, outras pessoas que, assim como ela, também foram discriminadas e perseguidas por serem “diferentes”. Vampira e os mutantes sofrem preconceito por não seguirem um suposto padrão da sociedade. Por não serem “normais”. Logo de início, portanto, percebemos que estamos diante de um filme que não é só sobre super-heróis, mas também sobre diversidade.
As histórias dos X-Men carregam a questão do preconceito em suas páginas desde a primeira edição, lançada em 1963. E isso não é à toa: a criação dos heróis foi inspirada e influenciada pela defesa e luta pelos direitos e respeito às minorias, que aconteciam com muita frequência na época nos Estados Unidos. Quando a Fox adquiriu os direitos e levou os mutantes para o cinema, portanto, era inevitável que esse assunto aparecesse. E ele foi muito bem trabalhado.
O segundo filme da franquia, X-Men 2 (2003), demonstra o conflito entre uma parcela da sociedade e os mutantes, bem como a perseguição que a primeira exerce sobre a segunda. Já em X-Men 3: O Confronto Final (2006), o conflito entre esses dois lados aumenta e é criada uma “cura” para os mutantes. O longa-metragem também é marcado pela divergência de opiniões dos próprios mutantes em relação a tal “remédio”. Em uma das cenas, a personagem Tempestade diz que não existe cura para os mutantes, pois eles são estão doentes (qualquer semelhança com algum fato atual não é mera consciência).
E, de fato, não há vacina ou soro que cure alguém sem problemas de saúde. Querer tirar algo de uma pessoa pelo fato dela simplesmente não ser do jeito que você acha que é certo é o mesmo que querer trocar as peças de um Lego. Só tem um problema nesse pensamento: pessoas não pertencem a ninguém; não são brinquedos e cada parte delas é – olha que revelador – delas!
Uma cena muito importante desse terceiro filme é quando o filho de Worthington, que é o vilão do longa, corta suas asas de anjo por causa da pressão e do preconceito que sofre por parte do pai. Se pararmos para analisar a cena perceberemos que ela é bem forte e demonstra o quanto uma criança pode ser afetada e sofrer por conta de opiniões erradas de pessoas que se acham certas.
Após o trágico X-Men Origens: Wolverine, a FOX voltou a trabalhar a questão do preconceito em X-Men – Primeira Classe. Neste novo filme, a essência das histórias em quadrinhos foi resgatada e, junto com ela, a questão da discriminação exercida pela sociedade, e da aceitação e compreensão de si mesmo por parte dos mutantes foram temas bem explorados. Magneto, Místicas e Fera são os personagens fundamentais para isso, pois passam por um processo de descobrimento e aceitação ao longo da narrativa.
Duas cenas mostram bem isso: na primeira, Mística deita-se ao lado de Magneto com seu visual humano. Ele pede para ver como é a verdadeira aparência dela, e diz que ela não deveria ter vergonha de quem realmente é; na segunda, Fera reluta ao demonstrar seus gigantes pés aos demais, mas depois se liberta e sai correndo pátio afora. Uma breve demonstração de que devemos libertar de todo o tipo de vergonha e preconceito que muitos de nós temos em relação às nossas particularidades.
O mais interessante é notar que, quando estamos assistindo a esses filmes, somos facilmente envolvidos por sua narrativa e criamos empatia pelas personagens. No Primeira Classe, então, é muito fácil compreender os sentimentos de Magneto e Mística, por exemplo, em meio à toda perseguição que eles sofrem.
Cabe agora a seguinte questão: se achamos um absurdo o que sofrem os mutantes, por que não sentimos o mesmo em relação às perseguições a homossexuais, transexuais, negros, mulheres, dependentes de drogas, portadores do vírus HIV, deficientes, refugiados e tantos outros grupos que sofrem preconceitos por serem… eles mesmos?
Um comentário em “X-Men: uma alegoria sobre diversidade e preconceito”
Comentários estão encerrado.