Crítica: American Vandal (2ª temporada)
Aclamada série em formato de mocumentário volta com mais uma história intrigante para arrancar risos e nos prender do início ao fim
Não há dúvidas que alguns usuários da Netflix com certeza sentiram saudades das pesquisas e investigações de Peter Maldonado (Tyler Alvarez) e Sam Ecklund (Griffin Gluck) durante a primeira temporada de American Vandal, série indicada para várias categorias em inúmeras premiações de renome como Primetime Emmy Awards, Writers Guild Of America e Broadcast Film Critics Association Awards. Muitos ficaram extasiados com a capacidade dos roteiristas de incorporar uma trama high school tão bem amarrada em um formato de série que ironiza e satiriza os moldes dos documentários que estamos acostumados a ver. É de fato um diferencial que chama a atenção, e que por outro lado gera muitas expectativas para uma possível segunda temporada, algo que a Netflix não demorou para nos trazer.
Nestes novos episódios, Peter e Sam abandonam o caso (já resolvido) de Dylan Maxwell, e, chamados por uma garota chamada Chloe Lyman (Taylor Dearden), vão para um colégio particular de Washington para sondar o caso de um vândalo anônimo conhecido por “The Turd Burglar” (traduzido para “Merdolino” no português) que é acusado de ter armado crimes escolares contra todos os outros alunos, crimes esses envolvendo fezes. Os alunos parecem convictos de que é Kevin McClaine (Travis Tope) quem está por trás dos crimes, ainda mais depois de uma estranha confissão.
O objetivo em inocentar alguém considerado culpado, o ambiente de ensino médio, os incontáveis personagens construídos em cima de estereótipos e um desenvolvimento gradativo de pesquisas e coleta de provas parecem ser os principais elementos que mantém a segunda temporada de American Vandal na mesma pegada de narrativa efetiva vista na primeira. Ainda temos todo o ambiente constrangedor e jocoso nos episódios, mas pelo que foi possível peceber, a quantidade de cenas com aquele humor ácido que muitos amam, deu uma boa diminuida, mas ainda é existente. Isso pode desagradar alguns fãs da série, mas meu conselho, como um desses fãs, é que o público não se envolva apenas pela comicidade dos personagens, mas deixe-se levar pela ótima forma como o enredo é entrelaçado, e se permita questionar como as aparências e os pré-julgamentos podem prejudicar pessoas, amizades e uma investigação que busca encontrar verdadeiros culpados.
Como na primeira temporada, o roteiro disponibiliza um pequeno tempo para expôr o cotidiano de alguns alunos, o que serve como um aprofundamento de personagem. As atuações, embora regulares, sustentam os “falsos personagens reais” da impressão que a série busca passar, com naturalidade e realismo. Mas um ator se destaca na composição de seu personagem: Travis Tope interpretando Kevin McClaine. Numa expressão fechada e com o cenho franzido, se desenvolve a possibilidade de segredos ocultos virem do personagem, algo que cativa desde o episódio inicial.
Na série, todos aspectos trabalham em prol de um dinamismo persuasivo, desde a respeitável montagem até os movimentos de câmera e utilização de fotos, vídeos e textos nas redes sociais. Esse dinamismo juntamente ao conteúdo midiático tão presente em nossas vidas, faz com que o público se conecte com a história e se projete em toda ambientação de um colégio cheio de pessoas suspeitas. É interessante como a narrativa constrói de maneira irônica (visando um reflexo de como funcionamos) as acusações e conclusões tomadas outros alunos, que se baseiam nos comportamentos aparentemente duvidoso das pessoas, nos conflitos particulares, no bullying, e nas convicções deturpadas que são compradas por Peter, Sam, e provavelmente por nós também.
Em American Vandal é curioso analisar como o desespero por encontrar um culpado nos desvia da racionalidade e nos leva a deduções precipitadas, e como isso influencia a maneira como as pessoas nos olham, também fazendo um julgamento redundante sobre nosso caráter. Se compõe uma troca de indelicadezas que só expande as insatisfações e divergências que possuimos. E evidenciar tudo isso através do humor, é, além de autêntico, genial. Com certeza há numerosas produções da Netflix que passam despercebidas pelos usuários, mas assistir a essa série é talvez uma das mais urgentes obrigações que todos possuímos. São episódios curtos que promovem divertimento, reflexões e um delicioso engajamento com cada pista e sugestão plantada pelo roteiro.