Crítica: Baby (2ª Temporada)
Entre mentiras, falsidades e altos riscos
O universo adolescente de Baby e a abordagem do diretor Andrea De Sica foram muito bem apresentados em sua primeira temporada, porém muito mal resolvidos e esclarecidos. Em sua segunda temporada, ainda notamos traços de indefinição em relação à mensagem que a série busca transmitir, mas ao menos o roteiro parece perder menos tempo com cenas desnecessárias e parte logo para as problematizações de cada personagem, em suas enrascadas e mentiras. Apesar de amarrar melhor seus arcos e torná-los mais interessantes, a série ainda continua sofrendo com o seu maior problema: a falta de identidade e a necessidade de reproduzir cenas e situações pouco originais.
Mesmo após as negações do diretor em tentar objetificar suas personagens e romantizar a prostituição na adolescência, a série acabou se tornando uma das mais polêmicas já distribuídas originalmente pela Netflix, juntamente com Insatiable. Os comentários negativos sobre a série não ajudaram na imagem da mesma, porém inegavelmente aumentou consideravelmente a atenção em cima da obra, consequentemente trazendo mais público. Em seu enredo novelesco e teen, vemos em sua segunda temporada uma ampliação das dificuldades e riscos sofridos por adolescentes em busca de liberdade. Da autodescoberta pessoal, à temas sexuais, Baby expõe as sujeiras de um bairro de classe média em Roma.
Com a volta das aulas, Damiano e Chiara passam a intensificar o namoro e o tempo que passam juntos. Ludovica continua a lidar com a péssima imagem que possui no colégio, enquanto ainda se encontra com clientes. Outros personagens secundários (alguns novos) ainda desenvolvem arcos que passam pela dificuldade de assumir sua sexualidade, casos extraconjugais, e os terríveis riscos do mundo da prostituição. Por vezes temos verdadeiras dificuldades de comprar a intenção de alguns personagens, o que complica nossa experiência e envolvimento como espectador, mas logo somos arrastados novamente à história por seu ritmo frenético de acontecimentos tensos, que impactam diversos personagens de uma só vez, uma vez que após apresentar a relação entre cada aluno, sabemos bem como cada ação reage na vida de outras pessoas, o que envolve além de realizações de favores, humilhações e chantagens da pior forma. Não faltam também as hipocrisias e o egoísmo de famílias que só pensam nos interesses pessoais em vez de seus filhos.
Com a inocência e a sedução em seus olhares, Chiara e Ludovica (e as situações complicadas que precisam enfrentar) continuam a carregar a série “nas costas”. Definitivamente, aqui fica claro o quão secundário são os arcos dos demais personagens, existentes somente para agregar à temática da adolescência e suas adversidades. O drama de cada jovem é exposto sem delongas, valorizando a diversidade de problemas que todos enfrentam, seja em casa, no colégio, ou consigo mesmos. Em um bairro onde a obsessão sexual e as falsidades de cada personagem falam mais alto que o amor ao próximo, os adolescentes acabam sofrendo mais do que mereciam, e lidando com problemas sérios que nenhum adolescente deveria lidar.
Com uma censura de +18, Baby traz cenas sensuais, românticas e libertadoras de uma irresponsável adolescência, enquanto não procura em nenhum momento ocultar ou amenizar as consequências dessa liberdade, incluindo riscos de segurança pessoal e violação de códigos morais. A trama funciona de forma satisfatória e os atores cumprem seus papéis, mas continuamos a sentir falta dos costumes e da cultura específica de Roma e da Itália em geral, pois pela forma que De Sica retrata a série, a não ser pelo idioma, parece mais uma cópia de séries teens americanas com pouca ou nenhuma originalidade.