Crítica: Love (3ª temporada)

Crítica: Love (3ª temporada)

Última temporada é a mais realista e deixará os fãs com um gostinho agridoce de “quero mais”

Não é fácil começar a assistir a nova temporada de uma de suas séries favoritas quando você sabe que esta será a última. A sensação de saber que não vamos mais ver aqueles adoráveis personagens juntos novamente é triste, e tudo é muito pior quando reconhecemos que o roteiro daquela série é um dos mais originais e realistas da atualidade. Foi o meu caso com a incrível série da NetflixLove.

Após o final angustiante da segunda temporada, Love se inicia sem nos informar quanto tempo se passou desde o último episódio. Aliás, isso é um ótimo ponto da série, em que, embora ocorra de forma linear, nunca sabemos ao certo quanto tempo exatamente se passa entre um episódio e outro. Isso aproxima o espectador das discussões do roteiro e do relacionamento entre Gus e Mickey. Na 3ª temporada, acompanhamos os personagens em mais aventuras pelo descobrimento do amor, da vida e de suas adversidades. Gus passa a reconhecer seus erros e a ser mais paciente, enquanto Mickey deixa de lado seus impulsos sexuais e se vê mais controlada com a sobriedade, além de perceber que possui mais em comum com Gus do que imaginava.

Se há uma série com personagens secundários (e terciários) tão interessantes quanto os protagonistas, essa série é Love. Apesar de o nosso coração sempre bater mais rápido com os altos e baixos da relação entre Gus e Mickey, personagens secundários como Bertie e Randy conseguem chamar nossa atenção por suas personalidades únicas. Inclusive, passam a ter dúvida quanto ao relacionamento que possuem. Personagens terciários, como os amigos do casal e colegas de trabalho, ainda representam bons pequenos arcos. Destaque para Arya, que tem seu primeiro contato com o amor, e Greg, que começa a perder sua fama gradativamente.

O humor de Judd Apatow ainda está muito presente nos episódios (embora haja uma equipe grande de roteiristas), mas além dos alívios cômicos e dos momentos de descontração, o que mais impressiona é a profundidade e realismo envolvidos nas discussões entre o casal principal (Gus e Mickey), que são no mínimo de arrepiar. São cenas que dividem opiniões, provocam o espectador e o força de todas as maneiras a se identificar com algum dos lados (ou até com os dois) presentes naquela situação.

A série vai além de quem está certo ou errado e consegue fazer seu público crer e se ver representado em quaisquer pontos de vista dos personagens. Quando não concordamos com a atitude de algum dos personagens, ao menos compreendemos as razões que os levaram a cometer tais atos. Os conflitos e sentimentos dos personagens são muito bem transcritos, e por isso nos descobrimos e nos assemelhamos tanto com os personagens.

Com personagens bem desenvolvidos, pautas relevantes no roteiro, episódios curtos e envolventes e ótima direção compartilhada, Love é uma das séries originais Netflix que mais têm a oferecer. O elenco também dá seu show, deixando claro que sabe transpor todas emoções vividas por seus personagens. Gillian Jacobs continua incrivelmente bem como Mickey. Seu olhar depressivo se faz cada vez menos presente, pois encontrou o amor. O mesmo acontece com Gus. Paul Rust (também co-criador da série), sabe minuciosamente onde dar seu toque de comicidade, e onde se entregar completamente à inquietude de suas emoções.

A terceira e última temporada de Love é a melhor lição que você pode levar pra casa. É um brinde a imperfeição de seus personagens, que exatamente por isso torna-se tão fácil amarmos cada uma de suas características. É uma aula de roteiro, uma ode ao amor e suas complicações. E é com lágrimas nos olhos que me despeço de um dos seriados mais envolventes que a televisão já nos trouxe, e que infelizmente não é valorizada, divulgada e enaltecida como deveria ser. Que Gus e Mickey morem sempre em nossos corações.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.