Crítica: River (1ª temporada)

Crítica: River (1ª temporada)

Sabe aquela série estrangeira que você acha ser chata e lenta antes mesmo de assistir? Pois é, sempre que eu olhava pelo catálogo da Netflix e encontrava a minissérie River, pensava o mesmo. Até que eu decidi assistir, e desde então passei a pensar duas vezes antes de julgar algo tão apaixonante como esta obra-prima de Abi Morgan.

river

O já experiente roteirista galês Abi Morgan, mostrou mais uma vez sua capacidade espantosa de criar um pequeno seriado bem elaborado, com atores talentosíssimos que fazem jus aos personagens instigantes que possuem, principalmente o protagonista John River, interpretado pelo fantástico ator sueco Stellan Skarsgård.

Essa minissérie britânica gira em torno de John River, um velho detetive que possui sérios problemas para interagir com outras pessoas e que só assume ainda seu cargo porque seus superiores sentem que estão em dívida com ele. Como se não bastasse, River ainda tem que lidar com alguns reflexos de sua mente que recria pessoas que já morreram, em seu mundo real. Neste meio conturbado, ele fará do impossível possível para ao menos resolver um último caso, que é no que se baseia toda trama.

Sinto-me obrigado a destacar a amizade admirável que o detetive possui com Stevie (Nicola Walker), sua parceira investigativa. Diálogos criativos e cenas divertidas garantem sorrisos do público sem nenhum empecilho, tornando-se fácil se entregar inteiramente a essa obra.

river2

A fotografia de cores frias consegue transmitir uma clara relação com o mundo depressivo de River, que vive cercado de pessoas racistas e xenofóbicas. Ao longo da série, vamos acompanhando vários personagens que tentam tornar a vida do detetive mais feliz e motivadora, enquanto algumas manifestações dos mortos (com exceção de poucos) tentam afundá-lo mais em sua solidão e desespero.

Outro aspecto que me chamou a atenção foi a montagem. Acompanhada de uma trilha musical notável, ela conduz a história de maneira inteligente e de forma alguma deixa a mesma ficar desinteressante, trazendo bons momentos de perseguição durante a série (uma delas já no início).

Apesar do roteiro levar ao espectador elementos investigativos que prendem nosso interesse, o maior atrativo da minissérie não é a própria investigação em si, mas sim o aprofundamento dos problemas psicológicos de John River, que luta com seus demônios diariamente, tentando encontrar uma solução para o caso que investiga, o que preocupa todos ao seu redor.

river3

As atuações de TODOS os atores são incontestáveis, sem exceção, por proporcionar uma dose de realismo difícil de se ver em produções atuais, principalmente americanas. Um frequente clima nublado denota a sujeira de segredos e falhas pessoais dos personagens, servindo como metáforas evidentes que apimentam o enredo desta série reflexiva e poética.

Porém, é preciso estar apto a um desenvolvimento mais lento de acontecimentos, diferente de séries americanas de ação e investigação como The Blacklist, que em questão de minutos há alguma morte ou tiroteio. River é uma série que pretende te conquistar aos poucos, sem explorar tanto momentos agitados repletos de tiros, uma vez que as pistas da investigação são mais frequentes que tiros de arma de fogo.

Mas não é difícil compreender e ficar curioso com o desenrolar da história, pois logo após o primeiro episódio bem orquestrado, a imersão que a série causa através de uma direção convincente e de personagens chamativos e originais é o suficiente para te fazer querer assistir todos os episódios seguintes.

river4

River é mais uma ótima produção britânica ao lado de séries como Penny Dreadful, Doctor Who, Sherlock e Downton Abbey, mas que lamentavelmente não possui a mesma fama das citadas. Talvez pela duração, pois em quesito de qualidade a minissérie é surpreendente em todos os sentidos.

Com apenas 6 episódios durando 1 hora cada, é a minissérie perfeita para uma maratona de fim de semana, altamente recomendada pelo Cinematecando! Aproveite.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.