Crítica: Sonhos Imperiais
Los Angeles, uma cidade de sonhos e sonhadores. Com direção de Malik Vitthal, Sonhos Imperiais teve sua estreia no Festival de Sundance em janeiro de 2014, mas a Netflix não poderia ter lançado o longa para o público em um tempo mais oportuno. Não há as canções grudentas, nem as cores vibrantes de La La Land – Cantando Estações. Contudo, há um sonho a ser perseguido, e tal jornada vem com seus custos pessoais e profissionais.
Fora da prisão, Bambi (John Boyega, de O Despertar da Força) volta ao gueto natal, para a casa de seu tio (Glenn Plummer), onde residiram a mãe, Tanya (Kellita Smith) e seu filho, Day (os gêmeos Ethan e Justin Coach) durante os meses de encarceramento. O jovem, que já escreveu um livro atrás das grades, pretende seguir com seu sonho literário e publicar mais outra obra autobiográfica. Negando-se a voltar para uma vida de crime, Bambi é logo expulso da casa do tio, sendo obrigado a cuidar de seu filho dentro de um carro.
Em meio à violência das gangues e a pressão policial, Bambi faz o que pode para educar seu filho de maneira honesta, preparando-o para a realidade das ruas sem doutriná-lo através dos modos violentos com o qual seu tio o havia feito. Com a catarse da escrita, busca-se um ambiente no qual Day possa viver livremente, sem ceder aos erros de sua família.
John Boyega, que teve estreia marcante na comédia britânica Ataque ao Prédio e depois ascendeu ao estrelato com o sétimo capítulo da franquia Star Wars, demonstra novamente sua habilidade em desaparecer dentro de uma personagem. Enquanto nomes britânicos de alto calibre, como Benedict Cumberbatch, sofrem ao emular um sotaque americano, Boyega, que no período de gravação de Sonhos nem havia sido elencado em Despertar, já entregava suas falas de maneira articulada dentro da coloquialidade típica do gueto. Carregado nas costas pelo jovem ator, Sonhos Imperiais é uma demonstração de força dramática em chave naturalista.
Com uma onírica trilha assinada pelo rapper Flying Lotus, o longa de estreia de Vitthal denota um gueto violento mas também empático. Há também sinais da diversidade encontrada em L.A., como no belo momento em que Bambi e Day se deparam com um cowboy mexicano, que deixa o menino montar em seu cavalo por alguns minutos de espontânea alegria para filho e pai.
Pontuado por uma conclusão tocantemente realista e satisfatória, Sonhos Imperiais nos apresenta mais uma voz promissora para o cinema independente americano. Malik Vitthal, que até aqui só havia assinado curtas-metragens, realizou seu primeiro longa em uma era pré-Trump, com horizontes menos preocupantes. Sonhos Imperiais, então, cresce em sua urgência ao dar voz para personagens presos em um ciclo de violência e injustiça que parece cada vez mais infindável. E se isso parece repetitivo, a realidade também é.
FICHA TÉCNICA
Direção: Malik Vitthal
Roteiro: Ismet Prcic, Malik Vitthal
Elenco: John Boyega, Ethan Coach, Justin Coach, Glen Plummer, Kellita Smith, Maximiliano Hernández
Produção: Jonathan Schwartz, Andrea Sperling, Katherine Fairfax Wright
Fotografia: Monika Lenczewska
Montagem: Suzanne Spangler
Trilha Sonora: Flying Lotus
Duração: 86 min Distribuição: Netflix
Gênero: Drama
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