Crítica: Star Trek – Discovery (Episódios 1 e 2)
Star Trek: Discovery é o esperado retorno da franquia para a televisão, ou quase isso, sendo disponibilizada em streaming. Muitos estavam céticos desde o começo de sua produção, principalmente após os impasses que levaram o ex-showrunner Bryan Fuller (Hannibal, Deuses Americanos) a deixar a equipe. Para piorar, quando divulgado que críticos não receberiam o material com antecipação, um infeliz destino para a série parecia selado. Até agora.
Discovery teve sua estreia norte-americana neste domingo, 24, tendo seus dois primeiros episódios disponibilizados na Netflix no dia seguinte para o público internacional. Embora não haja um consenso imensamente favorável quanto ao resultado, a nova série produzida por Alex Kurtzman (amaldiçoado por uma Múmia) consegue trazer o suficiente para garantir o interesse em episódios futuros. Mas como tudo que envolve o nome Star Trek, fãs das séries anteriores podem estranhar o estilo visual bastante semelhante ao dos reboots concebidos por J.J. Abrams, que moderniza parafernalhas, figurinos e naves, podendo criar uma incoerência ao considerar que Discovery é ambientada antes da maioria de suas séries irmãs (inclusive a original de 66).
Ainda assim, se a cara de Star Trek mudou, Discovery, assim como o mais recente filme Sem Fronteiras, tenta recuperar o foco da franquia em questões diplomáticas e as relações pessoais de sua tripulação, sem descambar excessivamente para a ação a la blockbuster e felizmente equilibrando otimismo e ameaça, ambos intrínsecos à vida de exploração que seus personagens levam. Para completar, os valores de produção são notáveis, deixando claro o alto orçamento que a CBS investiu no retorno televisivo da franquia, com sets detalhados, ótima maquiagem e CGI competente.
Por ora, o enredo é um arroz com feijão, e isso não é ruim: com um ritmo paciente, os dois primeiros episódios retratam o tenso contato entre a USS Shenzhou e uma gigantesca nave Klingon, espécie conhecida pelo atrito que tem com a Federação. Dentro dessa moldura, temos um elenco intrigante de personagens, com destaque para a protagonista Burnham, encarnada pela promissora Sonequa Martin-Green, e o alienígena Saru, interpretado pelo queridinho de Del Toro que é Doug Jones, aqui novamente sob quilos de maquiagem e um volume igual de personalidade. Michelle Yeoh também marca presença como a capitã Georgiou e James Frain assume muito bem o papel do sábio vulcano Sarek (o pai de Spock!).
Infelizmente, se o elenco cativa, os diálogos são bastante inconsistentes, muitas vezes caindo na exposição excessiva. Claro, trata-se de um piloto e também um ponto de entrada para novos fãs, então algumas explicações são esperadas, mas há diversos momentos que poderiam se beneficiar de uma abordagem menos verborrágica. Mas, como os Trekkers sabem, não dá pra falar que este problema nunca marcou presença antes em outros capítulos. Só que desta vez erraram um pouquinho a mão.
Outro problema de Discovery pode ser encontrado no que é justamente um de seus aspectos mais fortes: os visuais. Sim, são muito bem produzidos, mas seguem uma linha perigosamente similar à dos novos filmes, ou seja, uma festa dos infames lens-flares (feixes de luz que cortam a tela), além de um excesso de imagens superexpostas, com cantos determinados da tela simplesmente estourados, ofuscando a visão do público. Essa falsa extravagança visual já recebeu e ainda recebe muitas críticas, seja ela empregada por JJ ou Michael Bay, e infelizmente é uma mania que não deu sinal de fim.
Star Trek: Discovery, no entanto, merece a atenção de um novo público, principalmente agora que (aparentemente) está para engatar. Fãs da franquia Trek também terão muito o que apreciar nesta nova iteração do universo de Gene Roddenberry, isso é, se não derem muita bola às inevitáveis mudanças visuais. Fica, então, o desejo por uma série longa e próspera, audaciosamente indo aonde ninguém jamais esteve.
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