Crítica: The Good Place (2ª temporada)

Crítica: The Good Place (2ª temporada)

Quem diria que uma série tão original e peculiar como The Good Place poderia ter uma segunda temporada tão criativa quanto a primeira?

Desde que a Netflix comprou os direitos de distribuição do seriado, alguns fãs da série já estavam ansiosos mas ao mesmo tempo receosos por conta do arriscado e inesperado plot twist no último episódio da primeira temporada. Porém, conforme a distribuidora foi lançando um episódio por semana, os fãs se impressionaram com a permanência da qualidade dos episódios e, ao fim, nesta sexta-feira (02), tudo se confirmou com um agradável e pontual season finale.

Para a sorte de todos, o tom humorístico da série (um dos mais suaves e naturais dos seriados de comédia de atualmente) continua afiado. O espectador consegue se divertir muito com todas as situações em que os personagens se metem, assim como na primeira temporada. Além disso, as discussões filosóficas se aprofundam e se tornam bem mais frequentes que a temporada anterior, revelando uma preocupação maior dos roteiristas em entreter o seu público com conversas densas, fazendo-o pensar, refletir e concluir de diversas maneiras. The Good Place é uma série que, desde seu início, possui uma grande variedade de roteiristas e diretores, mas a forma como todos trabalham juntos e extraem uma notável qualidade de todos os episódios, é algo a se considerar.

Nossos amados personagens voltam com tudo, sem deixar a desejar em nenhum momento, com exceção da protagonista. Não necessariamente por culpa da atriz Kristen Bell, mas sim pelas opções do roteiro (que pode nem ter sido proposital) na forma como explorou Eleanor ao longo desta temporada. A personagem perde um pouco de espaço em cena relação à primeira temporada por consequências do enfoque em outros arcos (embora seu protagonismo seja resgatado no último episódio), porém ainda assim, continua sendo uma personagem carismática que sempre rouba as atenções, e disposta a ser uma boa pessoa.

Chidi (William Jackson Harper) se mostra ainda extremamente indeciso, comicamente neurótico e eticamente correto. Tahani (Jameela Jamil) traz consigo sua permanente elegância, se mostrando uma personagem mais vulnerável emocionalmente e, portanto, com mais personalidade. Jason (Manny Jacinto) continua sendo o otimista que mais arranca risos do espectador com sua ingenuidade, e nessa temporada passa a se envolver mais com outros personagens.

Entretanto, o maior ponto positivo da segunda temporada está na busca pela “humanização” de Michael (Ted Danson) e Janet (D’Arcy Carden). Ambos os personagens se tornam os mais interessantes da temporada, sendo imensamente elaborados em torno de seus sentimentos e ações. Personagens recorrentes como Vicky, Shawn e Mindy acrescentam conflitos e humor ao enredo, mas quem realmente fez falta na nova temporada, foi o sagaz e hilariante Trevor (Adam Scott).

Um dos maiores destaques da série continua sendo seu apelo visual, dispondo de atraentes figurinos que combinam prazerosamente com os cenários “futuristas” do mundo criado por Michael. Realmente todo o design de produção da obra é algo que chama a atenção do espectador desde a primeira temporada, e felizmente continua chamando. Os efeitos especiais da série também não decepcionam. Não há efeitos exagerados, somente os que colaboram com a proposta única do universo de The Good Place, pois só se apresentam fazendo jus à sua necessidade na narrativa.

A nova temporada é possivelmente mais interessante que a anterior, pois Michael, Janet e os quatro humanos tentam achar um jeito de não serem pegos/descobertos, algo que já acontecia durante a primeira temporada com Eleanor e Jason (antigo Jianyu), mas dessa vez Chidi e Janet não são apenas cúmplices, e Michael por razões próprias agora também precisa evitar ser pego por seus erros. Todo o desenvolvimento frenético do enredo é apimentado com uma boa dosagem de humor, diálogos interessantes sobre ética e moral, além de uma pitada de relacionamentos amorosos que só aumentam a deliciosa relação entre os personagens.

Uma terceira temporada é aguardada, mas não se faz necessária. É sempre bom presenciarmos novas confusões dos personagens que amamos, mas às vezes precisamos reconhecer quando uma série tem um final satisfatório, permitindo que o espectador imagine o que acontece depois que a tela preta aparece. The Good Place com certeza é uma série de comédia para ser lembrada e usada como exemplo de que não é só de humor que vivem as comédias, e que qualquer profundidade de sentimentos ou presença de reflexões filosóficas podem contribuir para o envolvimento do expectador.

Devo ressaltar que outro grande atrativo da série é a intrigante interpretação de Ted Danson como Michael, um personagem que difere muito de seu posto na primeira temporada, deixando agora dúvidas sobre seu caráter e suas intenções. Lembrando que sua atuação o rendeu o prêmio de Melhor Ator em Série de Comédia pelo Critics’ Choice Awards este ano!

https://www.youtube.com/watch?v=FMA6-p3V8hY

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.