Crítica: Uma História de Amor
Enamorados e amados terão, nesta segunda-feira (12), um dia que representa o amor e romantismo que impactou e ainda os move para frente, conscientes que esta caminhada se dá em par. É um dia de celebração e gratidão para muitos. Ainda mais, é um dia em que a inspiração emocional encontra-se dividida: entre o seu mais frágil e mais edificante.
É sobre isto que trata Uma História de Amor, filme do diretor Jeff Nichols selecionado para a competição oficial de Cannes em 2016 e o ‘queridinho’ da última temporada de premiações.
Este mais recente projeto de Jeff Nichols narra a história real de Richard e Mildred Loving, um casal interracial que foi perseguido, condenado e exilado do estado onde viviam, Virginia, em 1958. Na época, no estado de Virginia era proibido o casamento entre pessoas de diferentes raças. A história de amor e coragem deste casal da vida real, que lutou pelo direito de serem casados e de voltar para casa como uma família, foi símbolo histórico na luta pelos direitos civis na América indo até a Suprema Corte Americana, em 1967, onde buscavam invalidar as leis do Estado que proibiam o casamento interracial. Este caso ficou conhecido como Loving contra Virginia.
Nos últimos seis anos, a carreira do diretor Jeff Nichols deu uma guinada. Nesse tempo, filmes como O Abrigo, Amor Bandido e Destino Especial frequentaram os grandes festivais de cinema pelo mundo, principalmente Cannes e Berlin, acumulando aplausos e boas críticas do jornalismo especializado. Todas essas ações e textos fazem justiça ao trabalho de Nichols. O jovem diretor de 38 anos consegue abordar temas como casamento, ou as dificuldades de crescer tentando entender as escolhas da vida (obs.: John Hughes sempre fez isso muito bem dentro de uma linguagem mais pop), até amor com digna sobriedade e energizada atração. Nichols é da classe dos diretores de ‘mão leve’, mais sutis com suas narrativas. Ele é hábil o suficiente em elevar seus atores com grande vigor e também em explorar nuances profundas das interiorizações destas personagens.
Em Uma História de Amor, ele volta ao tema de seu primeiro grande sucesso de crítica, O Abrigo, falando sobre casamento e companheirismo. Se em O Abrigo ele foi mais ambicioso na transmissão do tema, em Uma História de Amor ele foi mais clássico. Este filme é um melodrama até seu caroço. Não necessariamente aqueles melodramas clássicos da Era de Ouro de Hollywood (obs.: um melodrama clássico atual muito recomendável é o ótimo A Luz Entre Oceanos), mas ainda um ótimo melodrama sobre condições humanas.
De roteiro simples, porém elucidativo e fluente, Uma História de Amor e seu diretor Jeff Nichols fazem ótimo uso da câmera nos momentos mais intimistas do casal com planos fechados (close-ups) e primeiríssimos planos (PPP); ou quando a câmera faz o papel do observador analisando o casal com planos mais abertos, até planos médios (PM). Vale exaltar, também, a bela suave e tocante trilha de David Wingo.
Com tantos atributos de qualidade citados, fica fácil chegar na conclusão que Jeff Nichols é um habilidoso elaborador de mise-en-scène, que consegue iluminar a face de sua protagonista feminina quando esta se encontra em bom estado, e capturar a decepção da mesma, com câmera plongée de um canteiro.
Mas faltou discorrer sobre o elemento central para qualquer boa mise-en-scène: seus protagonistas, os atores.
Em O Abrigo, Nichols tinha Michael Shannon e Jessica Chastain para garantir o brilho de sua história; em Amor Bandido, Tye Sheridan e Matthew McConaughey; e quem assume essa responsabilidade em Uma História de Amor são Joel Edgerton e Ruth Negga, ambos brilhantes. A química entre os dois é impecável. Tanto a construção técnica quanto o tratamento destas personagens fazem o filme esplendoroso como é.
Foi dito antes que Uma História de Amor é sobre casamento e companheirismo. É fato que, em um casamento, é necessário tentar se manter próximo de um equilíbrio para que o casal resista quando as tempestades chegarem. Nisso, é emocionante o trabalho dessa dupla de atores que, no filme, alternam momentos de vulnerabilidade e de esperançosa força.
Quando Mildred está entristecida e amuada com as mudanças de rumo em sua vida, Richard busca coragem para tentar alterar o cenário; quando Richard encontra-se melindrado e frágil pelo o que pode acontecer a sua família, Mildred vira uma montanha rochosa iluminada pelo Sol.
Richard tem uma fala que diz, “Eu posso cuidar de você”. É sobre isto, Uma História de Amor… amar o outro, cuidar do outro.
Que o próximo dia 12, seja de amor e carinho aos que amam e cuidam!
FICHA TÉCNICA
Título Original: Loving
Direção: Jeff Nichols
Produção: Big Beach; Raindog Films; Focus Features; Insiders
Roteiro: Jeff Nichols
Gênero: Drama histórico
Duração: 123 minutos
Elenco: Joel Edgerton (Richard Loving); Ruth Negga (Mildred Loving); Marton Csokas (Xerife Brooks); Nick Kroll (Bernie Cohen); Michael Shannon (Grey Villet).
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