Star Trek – Discovery (1ª Temporada): vale a pena maratonar?

Star Trek – Discovery (1ª Temporada): vale a pena maratonar?

Nova série na franquia Star Trek encerrou sua 1ª Temporada com altos e baixos

Até Star Trek – Discovery chegar em sua midseason (metade da temporada) no ano passado, a série foi alvo de críticas em relação a seu tom sombrio e incongruências com o universo da série original, entre outras coisas. Válidas ou não, tais críticas refletiam um dos grandes problemas com novas séries, que parecem ter alguma dificuldade em encontrar uma identidade sólida. No caso de Discovery, nem mesmo nove episódios, embora competentes, deixaram uma forte marca. No entanto, o último episódio antes do hiato apresentou um interessante mistério que atiçou a curiosidade para o restante da temporada.


Vale a pena ver até o final?

A resposta: depende. Star Trek – Discovery voltou com um tom ainda mais sombrio que de início, mesmo que com ideias mais inventivas. A existência do Universo Espelho foi confirmada, e pudemos ver tal realidade alternativa de maneira razoavelmente detalhada. Nela, os humanos ocupam a posição de antagonismo que os klingons dominam na realidade original: o universo é dominado pelo Império Terráqueo, extremamente fascista e xenofóbico.

Transportada para essa outra realidade, a equipe da Discovery passa por momentos tensos até escaparem de lá, em especial a protagonista Michael Burnham. É difícil dizer muito sem entregar spoilers, mas pode-se dizer que, em seis episódios, Discovery apresentou mais reviravoltas que algumas séries inteiras. Mistérios sobre Ash Tyler, Gabriel Lorca e até mesmo a capitã Philippa Georgiou são respondidos de forma bombástica, afetando Burnham de um jeito que a desafia a repensar seus métodos.

Se isso parece excessivamente sério, saiba que essa solenidade vai se diluindo conforme Discovery se aproxima da reta final, tanto que a season finale chega a pesar a mão na comédia arbitrária, prejudicando um pouco seu impacto. Essa mudança de tom, nada sutil, deixa evidente a falta de clareza na visão dos showrunners e roteiristas, que procuram também amarrar as pontas soltas desse primeiro ano com o intuito de recomeçar com o pé direito e agradar os fãs mais puristas das séries anteriores.


Um elenco próspero

A grande força de Star Trek – Discovery tem sido, desde o início, seu elenco. A começar pela interpretação cheia de fibra de Sonequa Martin-Green, que tornou a evolução de Michael Burnham muito mais palpável do que seria caso o papel ficasse para alguém menos capaz. A atriz não só confere a Burnham uma imponência convincente que a legitima como heroína, mas também traz emoções genuínas à mesa, principalmente nos últimos episódios da temporada.

Já o elenco de apoio (se é que são um apoio, afinal cada um consegue se sustentar sozinho) evoluiu muito mais do que o esperado, de todos os lados (ok, talvez o Saru nem tanto, mas a presença do ator Doug Jones é sempre agradável). O tenente Stamets, no carisma do ator Anthony Rapp, ganha um arco surpreendentemente emocional ao ser o único ser-humano capaz de navegar pela rede micelial. A cadete Silvia Tilly (Mary Wiseman), então, se depara com situações que a forçam a adotar uma postura mais sóbria do que de costume, dando um vislumbre a possível capitã que será no futuro. Já quanto ao capitão Gabriel Lorca, é difícil descrever as imensas surpresas que envolvem o personagem, e essas não teriam funcionado sem a competência do britânico Jason Isaacs, mais versátil do que aparenta.

[SPOILERS]

Contudo, com a introdução do Universo Espelho, o maior destaque dos novos episódios é no mínimo inesperado: Philippa Georgiou volta como uma grande antagonista, na posição de Imperatriz Terráquea, e para o deleite dos fãs, Michelle Yeoh se diverte ao encarnar a versão ultra-vilanesca da personagem que era tão nobre nos episódios de estreia. Tal retorno adicionou doses bem-vindas de perigo e humor que tornaram os últimos capítulos em um prazer de se assistir.

[Fim dos SPOILERS]


Um futuro promissor

Com uma 2ª temporada encomendada, Star Trek – Discovery faz também uma interessante manobra para que se encaixe melhor com a série original, a qual precede em uma década. Não direi exatamente do que se trata, mas posso afirmar que a conclusão desta temporada de estreia não só recompensa os fãs que embarcaram nessa visão diferenciada de Trek, mas também dá  significado ao extenso conflito entre a Federação e os Klingons.

Nem tudo é amarrado da melhor maneira: o papel de L’Rell (Mary Chieffo) em tudo isso acaba por perder peso pela pressa de encerrar o arco, enquanto o romance de Ash (Shazad Latif, elo fraco do elenco) com Burnham não tem um terço do impacto que os roteiristas acreditam ter, tomando tempo desnecessário para no fim não ser lá tão integral à narrativa (tudo teria sido o mesmo, ou melhor, caso os dois fossem apenas amigos).

No entanto, com uma nova trama no horizonte, a equipe da Discovery finalmente pode ter a aventura que merece, com uma maior variedade de planetas e conceitos bizarros para explorar. E se essa repaginada não te anima, espere até ver o excelente gancho final. Entre em dobra e fuja dos spoilers!

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.