Crítica: A Sereia – Lago dos Mortos

Crítica: A Sereia – Lago dos Mortos

Descasos e exageros

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É triste quando percebemos, ou pelo menos lembramos, o que a indústria cinematográfica (principalmente hollywoodiana) fez com os filmes de terror, ao tornar o gênero, que particularmente sou apaixonado, em um amontoado de produções semelhantes e enjoativas, sem aprofundamento nos personagens e seus objetivos, com incontáveis sustos previsíveis que são intensificados com ensurdecedores jump scares seguidos de efeitos especiais exagerados. A Sereia – Lago dos Mortos não é uma produção americana, mas se enquadra perfeitamente nesse tipo de roteiro preguiçoso e execução sem criatividade que estamos acostumados.

Seguimos um casal de jovens noivos composto por Marina (Viktoriya Agalakova) e Roman (Efim Petrunin). Após um breve conflito dentro de uma piscina, Roman é convidado por seu amigo Ilya (Nikita Elenev), para uma despedida de solteiro, que se passa num chalé em frente um lago. É quando Roman decide ir ao lago para nadar, e acaba se deparando com a presença de uma misteriosa sereia que o seduz. A partir daí, Roman acorda inconsciente, e passa a ter frequentes e aterrorizantes alucinações com a sereia. Nisso, Marina também começa a presenciar estranhos acontecimentos, e percebe que vai ter que ir além do que imaginava para salvar seu namorado.

O diretor russo Svyatoslav Podgayevskiy, responsável por A Noiva (onde também trabalha com a atriz Viktoriya Agalakova), aqui demonstra uma total falta de habilidade em nos contar a história de maneira fluida. Seus enquadramentos em cenas internas e cenários fechados parecem confusos e não nos passam uma boa noção espacial. Sua culpa pelo baixo nível da obra, também passa pelo roteiro, assinado junto com outras duas pessoas. Não nos sentimos motivados a torcer pelos personagens, seus surtos e ambições não são digeríveis e pouco plausíveis, além do que não sentimos medo da criatura (sereia), apenas de nos assustarmos com ela, o que acaba sendo inevitável visto o uso dos famigerados jump scares.

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Isso é, de longe, o mais revoltante em A Sereia – Lago dos Mortos. O jump scare pode ser interessante (ou no mínimo tolerável) quando usado com cautela e precisão, e quando se insere através de um sentido narrativo que casa com a proposta de um filme, como é o caso do ótimo Um Lugar Silencioso. O problema é que aqui (e em grande parte dos filmes de terror atuais), toda e qualquer cena de tensão é construída em prol do susto barato, pouco se explorando o suspense e a criatividade de ambientes escuros e temáticas sombrias. Isso faz o espectador de bobo, não o envolve, e no máximo o força a tampar o rosto por medo de pular da cadeira com uma face assustadora e um pico sonoro que é previsível, mas infelizmente infalível. 

É a clássica “teoria da torradeira”: você sabe que em algum momento a torrada vai saltar e você vai tomar um belo susto, mas você ainda assim tenta não tomar, falhando na maioria das vezes. Tudo bem, sabemos que é isso que vende e portanto o jump scare provou ser uma ótima porta pro sucesso comercial de filmes do gênero, mas acredito que o terror pode e deve ser mais do que isso. Pelo menos no já citado A Noiva (o penúltimo filme do diretor), podemos ver algumas tentativas de criar medo de maneira inteligente, com cenas densas que geram no público dúvidas frequentes sobre o que de fato está acontecendo naquela casa.

Com personagens mal elaborados, atuações ruins, uma trama nada criativa e diálogos preguiçosamente escritos, A Sereia – Lago dos Mortos se junta à O Manicômio na lista dos primeiros filmes de terror ruins do ano. Até os fãs do gênero que são menos exigentes irão provavelmente se decepcionar com o que nos é apresentado durante 87 minutos.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.