Crítica: Bloodshot

Crítica: Bloodshot

Tentativa anêmica de iniciar uma nova franquia

Em face do sucesso de Deadpool mas também do fracasso do mais recente Hellboy, Bloodshot poderia resultar dos dois jeitos em sua tentativa de trazer às telas um herói menos conhecido e encontrar seu apelo com o público atual. A aparente garantia se encontra na figura de Vin Diesel, uma estrela rentável nas bilheterias internacionais e que por si só constitui seu próprio super-herói ao olhar do público masculino adolescente, exatamente o alvo demográfico deste projeto conduzido por David S.F. Wilson – mais conhecido pelas cutscenes de games que produziu na Blur Studio. 

No entanto, rumo à estreia de Bloodshot nos cinemas, houve uma clara dificuldade em definir o diferencial do material sem entregar a maior parte das surpresas do longa, e como indicavam as suspeitas do público, o resultado final foi entregue, de fato, de mão beijada. Deixo então o conselho para que evitem quaisquer trailers ou até mesmo sinopses, já que o conhecimento prévio dos eventos da trama deve sabotar boa parte do envolvimento que poderia existir durante a introdução da história de Ray Garrison (Diesel), um militar morto que é ressuscitado com superpoderes.

De qualquer forma, nos seus próprios méritos, Bloodshot fracassa no que quer oferecer por uma gama de problemas de execução, desde a forma indecisa com que desenvolve seu enredo, às escolhas equivocadas de elenco, a maior delas sendo o próprio Diesel. Como não conhecemos muito de Ray Garrison para além dos diálogos de exposição, que não faltam aqui em momento algum, torna-se aparente que o astro depende de uma condução forte ou um projeto que saiba muito bem como usá-lo como estrela de ação, e o filme de Wilson erra em ambos os departamentos.

Primeiramente, esperava-se de Wilson uma fluidez maior na maneira com que encena lutas e tiroteios. Para minha surpresa, o diretor deixa a linguagem gamificada para trechos bastante exclusivos, e na maioria do tempo aposta em uma decupagem frenética sob a qual não possui domínio aparente, dada por exemplo a confusão visual de uma perseguição a pé em Londres – na qual os planos não chegam a durar um único segundo. Quando o festival de CGI começa e Wilson ameaça empregar a linguagem que tanto sabe, tudo parece uma cutscene inacabada, por ironia.

Além disso, o roteiro assinado pelo péssimo Jeff Wadlow e Eric Heisserer comete o erro letal de esquecer que o tal “carisma” de Vin Diesel é muito mais reativo do que propriamente ativo. Dom Toretto, Xander Cage e até mesmo Groot reagem a mundos e circunstâncias muito mais vivazes, enquanto Garrison é enxotado em um ambiente genérico, habitado por personagens descartáveis – ambos os alívios cômicos são um tiro no pé – e situações que sequer permitem ao protagonista esboçar outro traço de sua personalidade que não seja “brucutu estoico movido por vingança”.

O pior de Bloodshot, apesar de todas estas limitações, está em repetir o mesmo equívoco de outro projeto fracassado: A Múmia. Supõe-se que um nome de peso é o bastante para tornar uma premissa básica no início de um novo universo cinematográfico, neste caso marcando o primeiro filme adaptado de uma propriedade da Valiant Comics. Antes mesmo que se provem com o público, tanto a aventura com Cruise quanto a obra estrelada por Diesel expressam um entusiasmo antecipado em ser as novas grandes franquias, tudo enquanto apenas regurgitam ideias em uma zona de conforto.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.