Crítica: Obsessão

Crítica: Obsessão

Suspense requentado

Critica Obsessão

Você provavelmente vai reconhecer algo de familiar na sinopse: jovem garçonete passa a ser perseguida por uma solitária mulher mais velha, que gradativamente toma atitudes mais violentas à medida que se vê rejeitada. A Mão que Balança o Berço, suspense de 1992, Obsessiva, estrelado por Idris Elba e Beyoncé em 2009, e Paixão Obsessiva, que colocou Rosario Dawson e Katherine Heigl frente a frente em 2017, são alguns destes exemplos.

Obsessão já larga em desvantagem por não ser exatamente um enredo dos mais originais, por isso aposta em nem tentar disfarçar sua pretensão em ser apenas um bom entretenimento. Mas mesmo este objetivo modesto fica prejudicado por uma trama sem surpresas e personagens incapazes de gerar maior empatia.

A francesa Isabelle Huppert (indicada ao Oscar por Elle) encarna a vilã Greta, que costuma abandonar bolsas no metrô da cidade de Nova York para fisgar garotas incautas, que vão a sua procura para devolver o item e acabam presas numa teia de loucura. A vítima da vez é Frances (Chloë Grace Moretz), jovem ainda em luto pela morte recente da mãe.

À primeira vista, a aproximação tem contornos óbvios: Frances vê nos primeiros contatos com aquela senhora algo de sua mãe, enquanto Greta parece tentar replicar a dinâmica perdida com a filha, hoje distante. Não demora muito para a moça descobrir ter caído num golpe, e ver sua vida transformada num inferno.

O roteiro escrito Ray Wright e pelo experiente diretor Neil Jordan (de Traídos pelo Desejo e Entrevista Com Vampiro, entre muitos outros) mal dá às duas protagonistas tempo de desenvolver sua relação. Greta não está em busca de vingança (ao contrário do que normalmente acontece neste subgênero) ou tem uma motivação particular para seguir atrás especificamente de Frances, que também não tem informações relevantes sobre sua antagonista.

Tudo soa aleatório, com cenas que apenas tentam reiterar o suposto clima de tensão, como a sequência da amiga sendo seguida, mas não fazem a história sair do lugar. Essa escolha pela banalidade pode até ser proposital, mas fica-se à espera de uma grande reviravolta, que nunca aparece.

Na última meia hora, Obsessão finalmente cresce, ao assumir de vez que não está a fim de ser levado a sério. Huppert aciona o modo psicopata sem limites e parece se divertir com isso, rodopiando em cena com um sorriso maníaco no rosto e resistindo aos mais diversos tipos de ataque, e Jordan introduz um elemento gore, com direito a dedo decepado e o surgimento de cadáveres. Não chega a salvar o filme, mas ao menos dá a ele alguma personalidade.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil