Crítica: Black Mirror (5ª Temporada)

Crítica: Black Mirror (5ª Temporada)

Menos humanos e mais conectados

Critica Black Mirror

Como nos últimos anos, a Netflix disponibiliza uma nova temporada de Black Mirror para que os fãs possam matar sua sede de assistir situações aparentemente incomuns (ainda que não impossíveis) envolvendo tecnologia, interpessoalidade, e apontamentos críticos à alienação social.

O nome que a famosa série britânica carrega ainda é capaz de fazer praticamente qualquer espectador entregar suas atenções à qualquer episódio escrito por Charlie Brooker, independentemente do histórico de erros do roteirista.

A nova temporada é mais uma composta por altos e baixos. De início, com o episódio Striking Vipers, vem à tona a velha história de como os avanços tecnológicos podem vir a simular sensações reais melhor do que a própria realidade, nos fazendo querer trocar pelo virtual, até aquilo que nos parece mais íntimo (a relação sexual com nossos parceiros).

O episódio desenvolve isso por meio de dois amigos que descobrem um mundo de sensações à partir de um sistema de realidade virtual hiper avançado, que permite de fato uma imersão completa dentro de um jogo. A já saturada pensata do roteiro se complica ainda mais com alguns furos que não justificam as obsessões dos personagens.

É no segundo episódio que todos os fãs da série sentem o prazer de estarem investindo seu tempo em uma quinta temporada. Mais que compensador, Smithereens é sem dúvidas o melhor episódio da temporada, e estaria facilmente entre os dez mais interessantes da série.

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Abordando descontrole psicológico por meio de uma das grandes revoluções mercadológicas da última década: aplicativos de carona, Brooker encontra tempo de fazer humor, nos manter tensos, e criar naturalmente uma identificação com as intenções do protagonista, embora não saibamos de fato o que quer o motorista, enquanto aceita apenas caronas de clientes que trabalham em um prédio específico, até que sequestra um estagiário. A partir daí, tudo se desenrola de forma convincente e emocionante!

O terceiro e último episódio, Rachel, Jack and Ashley Too, é sobre uma cantora pop (interpretada por Miley Cyrus) e sua dificuldade em ser o que quiser ser, sendo explorada e controlada de todos os jeitos por sua tia e também empresária, enquanto uma garota deslocada em seu ensino médio compra uma boneca com inteligência artificial, baseada na personalidade da cantora, para ser sua nova amiga.

Meio à reprovação da irmã, a garota passa a se ver dependente dos desejos da boneca, que por sua vez pode ser a única forma de salvar a vida da verdadeira cantora. Alguns clichês e diálogos forçados tornam a experiência mais lenta e teen, mas garanto que muitos ainda poderão tirar proveito das consequências da alta tecnologia e da gradativa falta de relação com pessoas apontado pelo episódio, ainda que com uma trama sem novidades e com um plot pouco motivador.

É semeando um terreno arenoso e pouco fértil (visto a dificuldade cada vez maior de inovar com seus temas) que Charlie Brooker volta à média de três episódios por temporada. Com dois episódios medianos e um ótimo, ficamos no aguardo de demais temporadas que possam satisfazer os fãs da série, nos forçando a pensar sobre o quão longe ainda podemos ir para alcançarmos nossos grandes sonhos e nossos objetivos mais fúteis.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.