Crítica: Sex Education (1ª Temporada)

Crítica: Sex Education (1ª Temporada)

A arte de entreter e criticar

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“Extremamente prazeroso” é possivelmente a expressão que melhor define a chance de iniciar um ano e dar de cara, logo na segunda semana, com uma produção original da Netflix sobre a adolescência, que ressalta questões relevantes para nossa atualidade e ao mesmo tempo investe seriamente na diversão do enredo e na identificação de personagens em uma época tão nostálgica. A série britânica Sex Education parece ter surgido no momento correto para nos conscientizar sobre o respeito às pessoas ao nosso redor, e também nos lembrar de valores morais e éticos, tudo isso ainda de forma cômica e envolvente.

Criada por Laurie Nunn e Ben Taylor, a série nos coloca na pele do protagonista Otis (Asa Butterfield), um garoto de 16 anos, introvertido e com problemas sexuais, que vive com sua mãe Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual e escritora que vive pesquisando sobre a vida de seu filho por não conseguir lidar com o fato de o estar perdendo para o mundo. Durante os primeiros dias de aula do ano, Otis, que está sempre ao lado de seu melhor amigo, Eric (Ncuti Gatwa), conhece Maeve (Emma Mackey), uma garota bad-ass, excluída pelos colegas, que precisa urgentemente de dinheiro. Eles então decidem aproveitar a capacidade de Otis de dar conselhos para conseguir alguns trocados enquanto tentam ajudar outros alunos com seus problemas estranhos e aparentemente constrangedores.

Esse é um dos casos em que a sinopse não conta nem 20% do que está por vir. Nem mesmo o primeiro episódio, divertido e com uma abordagem mais leve, é capaz de prever todo o drama familiar dos personagens, juntamente com suas angústias pessoais, que será desenvolvido ao longo de oito episódios. Enquanto a série tem como pano de fundo a relação sexual e amorosa entre os adolescentes e seus parceiros, o roteiro encontra oportunidades de trazer recortes pertinentes para seus incontáveis personagens secundários (e terciários). É aí que aparecem as cartas na manga do seriado.

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Temos um valentão com uma relação familiar conturbada, principalmente com seu autoritário pai; uma delicada garota desesperada por um relacionamento, que simplesmente não sabe que também pode ter prazer sexual; um atleta talentoso apaixonado por natação que não encontra espaço para se divertir e relaxar visto as cobranças de sua mãe; uma jovem ansiosa para perder a virgindade por medo de não ser aceita entre os colegas de faculdade; entre muitos outros casos abordados na série. Mas talvez nenhum deles seja tão interessante como o arco de Eric, que sempre com um sorriso no rosto, tenta lidar com a aceitação de sua homossexualidade dentro de casa e no ambiente escolar, enquanto está cansado de ser ignorado ou tratado como lixo por todos à sua volta.

Isso tudo são pequenos casos dentro do abrangente reflexo da adolescência e dos obtáculos do ensino médio apresentados em Sex Education. Com episódios bem amarrados e uma linguagem audiovisual bem dinâmica, a série consegue atingir um nível de empatia com o espectador rapidamente, mesmo sem atuações marcantes e um senso de humor que nem sempre acerta. É exatamente na capacidade de entreter o público e ao mesmo tempo criticar fortes problemas sociais presentes em ambientes escolares até os dias atuais que o seriado consegue ganhar seu público. O que ajuda a série a ganhar corpo e cativar o espectador, é a soundtrack impecável que mescla algumas poucas faixas atuais com músicas oitentistas de Rock, Funk, Pop, Disco e muito mais gêneros que são incluídos nos momentos perfeitos e casam com as cenas.

Séries americanas como Everything Sucks!LOVE, ou até mesmo as britânicas Lovesick eThe End Of The F***ing World, deixaram seu importante legado de lições sobre a complexidade dos relacionamentos. Agora, mais uma se junta à lista. Sex Education, é muito mais que uma “educação sexual” (como o nome da série sugere). É também uma reflexão ao longo de todas as inseguranças sentidas por adolescentes durante uma passagem repleta de conflitos internos e externos. A série é, acima de tudo, um ensinamento sobre como fazer nossos relacionamentos (pessoais e amorosos) e nossa consciência estar em harmonia. Uma segunda temporada é mais do que esperada, visto seu final de temporada repleto de arcos não finalizados e muitos personagens para desenvolver.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.