Crítica: Creed II

Crítica: Creed II

Um pé no passado, outro no futuro

Desde que os produtores de Rocky decidiram retomar a franquia, e fazer uma transição entre o legado do personagem clássico interpretado por Sylvester Stallone e o novo protagonista Adonis Creed (vivido por Michael B. Jordan), filho de Apollo Creed, a história mantém um pé na mitologia já conhecida e outro na tentativa de consolidar um novo herói. Creed II, lançado três anos depois do último filme, é um passo a mais nessa tentativa de puxar a balança para o lado de Jordan.

Ainda assim, não é completamente desprovido de apelo à nostalgia. Muito pelo contrário. O mote do roteiro vai buscar elementos de Rocky IV (1985) e traz de volta o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren), agora pai e treinador do brutamontes Viktor (Florian Munteanu, lutador de UFC na vida real). De olho no cinturão dos pesos pesados, o clã Drago desafia Adonis Creed para uma luta com altíssimo apelo comercial, já que foi Ivan quem matou Apollo no ringue, mais de três décadas atrás.

Numa metalinguagem, o mesmo clima de acerto de contas colocado como atrativo para os fãs de boxe no universo do longa é um dos principais fatores de interesse do filme. Afinal, que entusiasta da saga cinematográfica não pagaria ingresso para ver esta revanche carregada de peso histórico, com os laços de família elevando ainda mais o caráter dramático do embate?

Felizmente, Creed II não é apenas isso. O roteiro escrito por Stallone e Juel Taylor aprofunda os conflitos de Adonis, fazendo-o investigar o que afinal de contas faz dele um lutador. Se apenas uma sede por vingança e auto-afirmação ou é de fato seu único talento, uma forma de sustento para sustentar a própria família, agora prestes a crescer, com a gravidez inesperada de sua parceira Bianca (Tessa Thompson) – cada vez mais forte em cena, bem longe do estereótipo da esposa de atleta que tanto vimos em outros filmes antes.

Sem querer o holofote para si, Stallone tem participação bastante atenuada nesta sequência, às vezes com longos intervalos entre uma aparição e outra em cena. As indefectíveis frases feitas motivacionais do mais famoso de seus personagens continuam ali, no entanto.

Na linguagem visual, o diretor Steven Caple Jr. segue o que Ryan Coogler fez em Creed. A câmera na mão que persegue a movimentação dos atores, uma predileção pela fotografia escura e o ritmo rap e hip-hop que parece sair da trilha sonora para invadir a textura do filme, fazendo que a estética soe mais crua, realista.

Num momento em que outras franquias se contentam em requentar o que já foi feito anos atrás, Creed II mostra vontade de ganhar vida própria. Ainda não é um nocaute, mas vence por pontos.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil