Crítica: Tidelands (1ª Temporada)

Crítica: Tidelands (1ª Temporada)

O que as águas escondem

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Não é de hoje que muitos se interessam pelo mito das sereias, seres tão curiosos que habitariam as profundezas menos prováveis dos grandes mares. Em mais uma produção original Netflix,dessa vez temos a chance de conhecer uma abordagem mais misteriosa sobre essas criaturas. É a vez de Tidelands encontrar seu público, nos contando uma história repleta de segredos e mentiras.

Após sair da prisão depois de estar presa por 10 anos, a jovem Cal McTeer(Charlotte Best) retorna para sua pequena cidade Orphelin Bay, para tentar encontrar seu lugar no mundo. O que ela não imagina é que nessa estranha cidade existem segredos e crimes por todos os lados, que parecem de alguma forma se ligar a um grupo de pessoas chamadas de tidelanders. Em busca de respostas, Cal passa a ajudar seu irmão Augie nos negócios da família, e começa a descobrir mais sobre as pessoas daquele lugar, inclusive sobre si mesma.

As paisagens de Tidelands são de fato de tirar o fôlego. Notamos vários belos enquadramentos de um mar infinito, de plantas, coqueiros e arbustos que rodeiam a cidade. Mas o que não é de tirar o fôlego é a maneira como sua narrativa se estrutura. Temos boas reviravoltas e um clima de mistério que permeia todos os episódios, mas que muitas vezes cansa pelo seu ritmo monótono e a necessidade de conciliar a história principal de Cal tentando se encaixar em algum grupo, com arcos de personagens secundários.

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O protagonismo de Cal é muitas vezes colocado em xeque pelo desenrolar do enredo e pela limitada interpretação de Charlotte Best, mas não chega nem de longe a ser o maior problema da série. Um dos maiores problemas está na frequente sensação de falta de propulsores que agilizem a história e a faça fluir, que junto com a falta de verossimilhança de alguns eventos e as exageradas cenas de sexo entre diversos personagens, fazem Tidelands parecer um entretenimento forçado, e destinado apenas ao público adolescente, que não é o público sugerido pelo seu material de divulgação.

Esse enfoque nas relações amorosas dos personagens faz com que a série perca parte de sua força e chance de explorar outros acontecimentos que poderiam enriquecer o suspense da série. Ainda assim, apesar de um início e um desenvolvimento lento e pouco amarrado, Tidelands consegue entreter a partir de sua segunda metade, quando o mistério e a narrativa nebulosa dão lugar para cenas frenéticas de ação, com mortes e riscos inesperados, que alimentam a história principal e a presença da protagonista em cena.

A primeira série australiana original da Netflix pode ter dificuldades de encontrar seu público, mas garante algumas interessantes construções de personagens e uma razoável história de vingança e autodescoberta, ainda que sem toda a solidez e ousadia que merece. Além disso, a série é uma boa oportunidade para ver o ator brasileiro Marco Pigossi (de O Nome da Morte) atuando em cenários internacionais, com um papel bem relevante, por sinal.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.