Crítica: O Retorno de Mary Poppins

Crítica: O Retorno de Mary Poppins

Nostalgia e deslumbre à flor da pele

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O que de novo ou ao menos necessário um retorno da icônica Mary Poppins poderia trazer para os dias atuais? Deve ter sido a indagação dos produtores, do roteirista David Magee e do diretor Rob Marshall ao longo da preparação deste filme. Mary Poppins (1964) é um dos clássicos mais atemporais da história do cinema, trazendo uma babá mágica interpretada pela talentosa Julie Andrews (em um papel que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz) que consegue trazer felicidade para qualquer família, e estabilizar qualquer lar. Após 54 anos, é a vez de Emily Blunt tentar alcançar os trejeitos da personagem, e emocionar a todos nós em uma sequência promissora.

Em 1930, durante a Grande Depressão, acompanhamos as duas crianças conhecidas do clássico de 64, que agora estão adultas, Michael (Ben Whishaw) e Jane Banks (Emily Mortimer), que ainda estão juntos morando na mesma casa de seus pais depois de 24 anos. Michael perdeu sua esposa recentemente, com a qual teve 3 filhos (Georgie, Annabel e John) que vivem com ele. Porém, Michael está infeliz com sua vida, e a dificuldade de lidar com a morte da esposa, juntamente com os problemas financeiros da família, fazem com que os desejos das crianças e ambições de Jane sejam reprimidas, o que demanda uma pequena (ou seria grande?) ajuda da babá mais querida do cinema, Mary Poppins.

Felizmente, a carga emocional se mantém fiel ao primeiro filme, junto de muitas aventuras protagonizadas por Mary Poppins, acompanhada de Jack (Lin-Manuel Miranda), um acendedor de postes de rua, que serve para substituir o carismático Bert, interpretado por Dick Van Dyke no primeiro filme. A necessidade da felicidade em nossas vidas é trazida de maneira sutil, por meio de músicas maravilhosamente compostas por Marc Shaiman, sem falar dos números musicais animados cantados por todos os personagens.

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Apesar do gênero principal do filme uma mistura entre comédia e musical fantasioso, estão reservados aqueles deliciosos momentos dramáticos para fazer qualquer um chorar, seja pela emoção de cenas específicas, ou até os mais nostálgicos pela lembrança de personagens e referências do primeiro filme. O timing cômico acerta na maioria das vezes, assim como as canções, mas assim como o filme se apoia mais na nostalgia provocada pelas lembranças do clássico, a narrativa também consegue convencer o público mais jovem sem ter conhecimento do filme de 64. Porém, pessoalmente acho muito interessante assistir ou mesmo rever o primeiro antes de conferir essa obra, tanto pela nostalgia, quanto para compreender diversos elementos físicos e metafóricos reutilizados no novo filme.

Como já era previsível, o filme não alcança a qualidade do clássico, principalmente por conter um desenvolvimento de segundo ato lento, muitas vezes até cansativo, que não se encaixa com a proposta dinâmica do filme. Temos também estratégias de roteiro manjadas, que já vimos diversas vezes. Porém, seu confiante primeiro ato e seu emocionante final, asseguram uma experiência valiosa. Nada que músicas tocantes, um design de produção primoroso e ótimas interpretações não consigam esconder, principalmente de Blunt, que mergulha facilmente nas facetas de sua personagem, com seu jeito convencido, seus olhares profundos e um sorriso misterioso.

O Retorno de Mary Poppins é imperfeito, mas sua sensibilidade para trazer lições de vida e muita alegria e magia em suas cenas é algo a se valorizar. É o filme perfeito para ver com a família nos cinemas, ainda mais em época natalina. Sem falar que a cuidadosa direção de Rob Marshall consegue entreter até os mais céticos e exigentes. Lembremos, com esse filme, da importância de amar e dar atenção à nossos amigos, e principalmente familiares, pois não importa o quão ruim é uma situação, apenas a união e confiança daqueles que se amam é capaz de reverter aquilo.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.