3%: Série entretém, mas não apresenta inovação

3%: Série entretém, mas não apresenta inovação

Essa análise está LIVRE de SPOILERS. Leia sem medo!

A Netflix disponibilizou sexta-feira, dia 25/11, todos os episódios da série 3%, a primeira produção totalmente brasileira do serviço de streaming. A ideia da série surgiu em 2009, época em que foi lançada uma websérie no Youtube com três partes, mostrando vagamente a ideologia da história e alguns perfis de personagens que foram preservados na produção final, mesmo que com atores diferentes. Apesar de ter uma premissa interessante, 3% é mais uma história entre tantas que mostram um mundo dividido em dois lados: o caótico e o perfeito, como Jogos Vorazes, Maze Runner e Elysium.

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ROTEIRO COM POTENCIAL PARA SER MUITO MAIS

Escrita por Pedro Aguilera, 3% se passa em um mundo pós-apocalíptico, em algum lugar não especificado do Brasil. No Continente, que abriga 97% da população, os recursos são escassos e os habitantes levam uma vida precária. Aos 20 anos, os jovens têm a oportunidade de entrar no Processo para começarem uma vida nova no Maralto, também conhecido como ‘lado de lá’, uma cidade longe da violência e do caos do Continente. Não é mera coincidência se a sinopse lembrar filmes famosos como Jogos Vorazes e talvez esse seja o maior problema de 3%: abordar um assunto tão explorado, sem trazer qualquer inovação surpreendente.

A história é uma crítica clara à desigualdade social, mas não apenas isso. A série toca em assuntos importantes como o estresse que enfrentamos durante um processo como vestibular, por exemplo. Porém, essas críticas poderiam ser mais bem exploradas, mostrando outras nuances que fugissem do óbvio. Um ponto que incomoda é o fato do Continente não ser tão retratado como deveria: assim como o Maralto, não sabemos muitas informações sobre ele. Nas imagens em que essa cidade pós-apocalíptica aparece, conseguimos notar sujeira, violência e falta de recursos básicos, nada muito diferente do que já vemos em alguns locais no Brasil atual. Outro ponto fraco da série é a trilha sonora, que às vezes aparece de maneira forçada durante as cenas.

No episódio piloto, as atuações parecem frias, com exceção de João Miguel, que interpreta Ezequiel, o chefe do Processo, e outros dois atores: Rodolfo Valente (Rafael) e Bianca Comparato (Michele). Com o decorrer dos episódios, Vaneza Oliveira se destaca como Joana e Rafael Losano surpreende na pele de Marco, personagem que protagoniza uma sequência de cenas importantes. Já outros, infelizmente, não conseguem passar o sentimento que o thriller brasileiro pede e, por isso, acabam se tornando personagens que não convencem.

ASPECTOS POSITIVOS

Mesmo que apresente diversos defeitos, 3% não é uma série ruim ou péssima. É interessante, na verdade, acompanhar os testes e seus critérios para eliminar os participantes. O personagem Ezequiel é muito bem construído e o roteiro nos mostra suas inúmeras faces, colocando em dúvida o seu caráter e a eficácia do Processo. Também é legal conhecer um pouco mais sobre a vida dos personagens principais (Michele, Rafael, Fernando, Joana e Marco) e Pedro Aguilera trouxe histórias intrigantes para cada um deles. Algumas reviravoltas na trama surpreendem positivamente e conseguem deixar quem assiste curioso para saber o que vem a seguir. A série possui um ritmo agradável, caminhando sempre para frente e raramente parando para nos trazer alguma informação desnecessária.

 3% PODE SER APENAS O COMEÇO

Por mais que 3% não seja um sucesso de críticas, a série pode atuar como uma porta de entrada para outras produções totalmente brasileiras da Netflix. Parece que, nessa primeira experiência, faltou um pouco de ousadia e coragem. Mas isso não impede de maneira alguma que outras séries nacionais, com temáticas diferentes e cheias de personalidade própria, apareçam nos próximos anos na Netflix, já que tanto os nossos atores como os nossos roteiristas possuem capacidade para isso.

Jaquelini Cornachioni

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