43ª Mostra – Crítica: Depois a Louca Sou Eu
Montanha-russa emocional
Depois a Louca Sou Eu quer a todo momento mostrar que é um filme excêntrico. A intenção começa na fotografia, que foge do naturalismo para assumir a pegada “acima do tom” da personalidade da protagonista. Dani Teixeira (Débora Falabella), alter-ego da escritora Tati Bernardi, autora do livro no qual o roteiro é inspirado, é uma mulher que precisa aprender a conviver com o distúrbio de ansiedade, algo que carrega as tintas da lente com a qual enxerga o mundo.
O filme de Júlia Rezende se apropria desse sintoma para montar a base de sua estética visual, mas também do ritmo da narrativa. Assim, cenas são entrecortados por pequenas vinhetas (como as que “denunciam” as mentiras que Dani conta sobre sua mãe), muita verborragia e até mesmo uma sequência em animação. O ápice é uma caminhada noturna da personagem, onde todos as suas angústias são personificadas e lhe encaram de frente, num momento que retrata com precisão o estado psicológico diante de uma crise.
Depois de algum tempo, chega a ser difícil enxergar algum respiro, o que faz com que Depois a Louca Sou Eu passe a sensação que está tentando demais surpreender o público. O longa se beneficiaria de alguns momentos mais sóbrios, que dessem espaço para o peso dramático das ações ressoarem de forma mais potente, o que acontece apenas perto da conclusão, quando a relação entre Dani e sua mãe toma o foco de vez.
Controlando a montanha-russa emocional de sua personagem, Débora Falabella tem um ótimo desempenho, explorando a veia humorística de forma diferente das mocinhas românticas de Lisbela e o Prisioneiro e A Dona da História, suas comédias anteriores no cinema. Em um momento que muito se discute como as mulheres são representadas na tela, o longa oferece um exemplo de retrato de uma figura que, mesmo com momentos de fragilidade, está longe de ser oprimida pelos homens e é dona dos próprios desejos afetivos/sexuais.