Entrevista com Daniel Nolasco, diretor de “Paulistas”
“Paulistas” é um filme sobre uma comunidade rural que está na iminência de desaparecer
Natural de Goiás, Daniel Nolasco estreia seu novo filme, Paulistas. A inspiração para a obra veio de sua própria história, pois passou boa parte de sua vida viajando entre cidades. Interligando presente com passado com inúmeras imagens contemplativas, o documentário é um registro dos resquícios do dia de ontem, mas ao mesmo tempo é convidativo para qualquer espectador que se interesse em conhecer o Brasil por uma ótica mais pessoal.
Paulistas estreia nesta quinta-feira (22) e faz parte da Sessão Vitrine, projeto da Petrobras que realiza a distribuição coletiva de filmes brasileiros, incluindo coproduções internacionais, exibindo um recorte da produção audiovisual contemporânea. A iniciativa visa criar um público cativo com a programação de cada filme com sessões diárias e com horário fixo em mais de 20 cidades, se tornando dessa forma um diferencial. Saiba mais aqui.
O diretor conversou com o Cinematecando sobre seu filme e você pode conferir a entrevista abaixo:
1) O documentário é inspirado em alguma experiência pessoal que você (ou alguém que conheça) tenha vivido?
Eu nasci no Paulistas, vivi lá até meus dois anos de idade quando a minha mãe se mudou para região urbana de Catalão. Durante toda a minha infância eu sempre voltava para região para passar as férias escolares e visitar os parentes que moravam lá. Esse momento que é mostrado no filme, dos jovens que moram na cidade e voltam para a casa dos familiares durante as férias, é algo que eu também vivi. Quase todos os personagens principais do filme tem algum laço de parentesco comigo, então conhecia bem a história de vida deles antes de começar a produção do filme.
2) A relação entre a tecnologia e o tradicional é feita através dos olhares dos três personagens que se mudaram para áreas urbanas. Como surgiu essa abordagem para o documentário?
A questão desses diferentes olhares sobre a tecnologia foi algo que surgiu durante as filmagens. Durante a pesquisa percebi que a relação dos personagens com a tecnologia possuía várias nuances e contradições. Porque percebi que a chegada da eletricidade, do sinal de telefone, das máquinas, etc., facilitaram o trabalho na região, ao mesmo tempo que provocou um efeito colateral, principalmente por causa do impacto ambiental e da mudança da dinâmica do trabalho no campo, que leva as pessoas a irem embora e resulta na situação que temos no Paulistas e na Soledade hoje – em que não há mais jovens morando na região.
Quando os meninos chegaram durante as filmagens com seu smartphones, computadores, etc., ficou muito claro que aqueles personagens tinham uma ligação muito diferente com a tecnologia se comparado com as pessoas mais velhas. Então resolvemos trazer isso para filme e, na montagem, procuramos criar esses contrapontos entre as diversas formas de se relacionar com a tecnologia e os efeitos dela na região.
3) Você acha que a mensagem que o documentário passa (mantendo certa distância, apenas exibindo as imagens e observando junto com o espectador) seria a mesma caso sua escolha fosse fazer um roteiro ficcional?
Vários filmes brasileiros tencionam esse limite entre o que seria um documentário e o que seria uma ficção. Acho que hoje em dia esses limites entre esses dois tipos de filmes estão cada vez mais tênues. Uma termo que gosto muito e acho que pode ser aplicada no Paulistas, principalmente em algumas cenas com os meninos, é o de “ficcionalização do real”. Eu não cheguei a propor nenhuma cena para os personagens, mas teve várias sequências que pensei junto com eles em como filmar: como a cena em que Rafael conversa com a namorada pelo celular a noite. Mas não acho que essa escolha por um documentário mais observacional, sem narração em off ou entrevistas, faz com que o filme se aproxime de um roteiro ficcional.