Crítica: Verdade ou Desafio

Crítica: Verdade ou Desafio

Terror teen produzido pela Blumhouse expõe roteiro incômodo e prejudicial, mas com um pouco de esforços é possível se deixar levar pela proposta

Em Verdade ou Desafio, as semelhanças com o filme A Morte Te Dá Parabéns (2017) vão além de ambos serem filmes de terror/suspense com temática adolescente produzido pela mesma empresa. Ambos possuem falhas comprometedoras quanto a busca por reações realistas dos personagens, além de um roteiro que encontra maneiras preguiçosas de solucionar conflitos em determinadas cenas. Mas olha aí outra correspondência entre os filmes: ainda é possível se divertir com a experiência caso abdiquemos do nosso senso crítico em querer que tudo aconteça como de fato aconteceria. Não é difícil comprar a ideia do filme (uma vez que as regras do jogo aos poucos ficam claras), mas também não é fácil. Depende do espectador.

A história segue Olivia (Lucy Hale) e seu grupo de amigos, que viajam ao México como uma despedida antes da formatura. Lá, um estranho convence um dos estudantes a jogar um aparentemente inofensivo jogo de verdade ou desafio com os outros. Ao começar, o jogo desperta algo maligno – um demônio que força os amigos a compartilharem segredos sombrios e confrontarem seus medos mais profundos. A regra é simples, porém cruel: fale a verdade ou morra, faça o desafio ou morra, e se parar de jogar, também morra.

No geral, as atuações são bem medianas e deixam bastante a desejar, principalmente em cenas que exigem maior carga dramática dos personagens. Há, inclusive, um dos maiores problemas de filmes e séries que vejo por aí: a falta de realismo em cenas de perda e descontrole emocional. Em Verdade ou Desafio, há uma cena em que uma das personagens acaba de ver o namorado morrer, e na cena seguinte ela já está tranquila, mexendo no celular e com um semblante natural (sendo que se passaram menos de 12 horas do ocorrido). Outra coisa que incomoda muito é a falta de motivações dos personagens que os levam a cometer alguns atos, como por exemplo sair discutindo e culpando seus amigos sem nenhuma razão (algo que acontece muito no filme). Essa falta de preocupação da elaboração dos personagens e incompetência da direção de atores me deixa angustiado, pois não ver alguém depressiva após perder o namorado de forma violenta e traumatizante é no mínimo surreal.

A protagonista é moldada com pouco desenvolvimento, mas o suficiente para nos importarmos com ela e torcermos por suas ações. A atuação de Lucy Hale não engrandece, mas também não danifica a personagem. Mas falando em dano, percebemos já no primeiro ato tentativas de humor escrachado em alguns diálogos, como um personagem bem desinteressante (e estereotipado) que sempre reforça sua vontade de ver duas mulheres se beijando, o que acaba sendo repetitivo, além de nada cômico e original. Além dos diálogos, as possíveis tentativas de trazer humor estão presentes de outra forma, como por exemplo nos lamentáveis “sorrisos bizarros” dos personagens possuídos pelo jogo, que desde o começo nunca sabemos se a intenção era causar risos ou medo.

Mas se nos atentarmos a linguagem audiovisual da obra (que não é tão ruim quanto seu roteiro), até dá para perceber que o filme tem lá suas pequenas qualidades e intenções de te animar. A começar pelo desenvolvimento enérgico das cenas proposto pela montagem e pela direção, que opta pela escolha de plano e contraplano bem definidos nas conversas entre os personagens, além de planos longos nos momentos de medo.

Verdade ou Desafio é uma boa oportunidade para os cinéfilos e espectadores mais exigentes passarem longe dos cinemas e economizarem um dinheirinho, mas ao mesmo tempo é um divertimento pronto para ver com os amigos no cinema de maneira despretensiosa, nem que seja para dar algumas risadas em algumas cenas absurdas do filme. Contudo, não é impossível se interessar pelo desenrolar da trama e ficar curioso para saber como o terceiro ato vai se resolver. Admito que eu mesmo fiquei a partir da metade do filme – mas só após me desprender das exigências quanto a probabilidade dos acontecimentos, o que de fato não foi fácil.

FICHA TÉCNICA
Direção: Jeff Wadlow
Roteiro:
Michael Reisz, Jillian Jacobs, Chris Roach, Jeff Wadlow
Produção: Jason Blum
Elenco: Lucy Hale, Tyler Posey, Violett Beane, Hayden Szeto, Landon Liboiron, Nolan Gerard Funk, Sophia Ali, Sam Lerner, Aurora Perrineau, Tom Choi
Direção de Fotografia: Jacques Jouffret
Montagem: Sean Albertson
Música: Matthew Margeson
Gênero:
Suspense / Terror
Duração: 103 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.