Crítica: The Sinner (2ª Temporada)
O poder de nossos traumas
Quantas vezes paramos para pensar quem realmente é capaz de enfrentar seus medos mais cruéis? Seriam esses medos uma simples repulsa a coisas e elementos do cotidiano como altura e palhaços, ou decorrentes de perturbações e traumas passados que nos impedem de seguir em frente? Fatalidades, acidentes, abusos… são tantos os eventos que podem causar choques psicológicos que qualquer um de nós os percebe, porém por alguma razão se recusa a dar a devida importância a esses casos. Felizmente, The Sinner não faz isso.
Seguindo a linha da primeira temporada ao retratar um crime fora do comum e uma investigação a respeito de possíveis traumas, a série volta tendo como protagonista Harry Ambrose (Bill Pullman). Ao lado da nova parceira, Heather Novack (Natalie Paul), ele busca por respostas após o surgimento do caso de Julian (Elisha Henig), um garoto de 10 anos acusado de assassinar seus pais em um quarto de motel. Conforme a investigação progride, aos poucos, segredos e esquemas começam a surgir entre os moradores da pequena cidade de Keller, no Texas.
Sem se apressar, o enredo estabelece os receios dos personagens principais de maneira interessante, tanto Julius com seu sonho assustador, quanto com Ambrose, que passa a ter frequentes memórias de seu passado com sua mãe, que por sinal nem nos é apresentado durante a primeira temporada. Porém, os arcos dos personagens secundários, apesar de bem amarrados à história principal, rendem recortes banais e que pouco podem acrescentar a experiência do público. São vários os personagens mal apresentados e mal finalizados, como o chefe de departamento Tom Lidell (Jay O. Sanders), que parece ter inveja de Ambrose (além de carregar um ar suspeito desde o início), e Glen Fisher, personagem cuja trama dedica boa parte do tempo, mas opta por deixar um buraco não resolvido nas intenções do homem.
O uso excessivo de longos flashbacks pode incomodar em alguns momentos. Apesar de necessárias para a compreensão do público, o ritmo em que as memórias se apresentam é lento e cansativo. O que também cansa é a péssima atuação de alguns personagens. Enquanto alguns simplesmente estão espetaculares em seus papéis, outros se saem mais ou menos, e uma pequena minoria decepciona bastante. Os que nos ganham desde o início por suas expressões faciais definidas e um olhar penetrante são Bill Pullman e Tracy Letts, que interpreta o pai de Heather com muito humor e sagacidade. O maior show fica por conta da revelação do ator Elisha Henig, que apesar de ser jovem, soube dar vida a uma criança problemática, fruto de uma criação longe da sociedade.
Já Natalie Paul não empolga com sua interpretação repetitiva, estando sempre com um seblante irritado ou desconfiado. E a alta necessidade de uma identidade própria de sua personagem, visto que possui traços emotivos fortes com as pessoas e os locais do caso, só piora a situação. Inclusive, a série aposta alto na relação de parentesco entre os personagens para evidenciar sua discussão de medo e trauma. São discussões ao longo da criação que um pai ou uma mãe dá ao seu filho, e como um lar familiar pode ser bem diferente do que você imagina.
Cheia de mistério e indagações, a segunda temporada de The Sinner funciona e mantém seu misto de drama e suspense com estilo, mas falha na missão de trazer uma história tão cativante e amarrada quanto a de sua primeira temporada. Bill Pullman assume de vez o protagonismo, antes compartilhado com Jessica Biel, que nessa temporada assina a série somente como produtora executiva. E se Pullman assume o protagonismo, o espectador assume seu lugar de observador, e passa a descobrir mais sobre as áreas acinzentadas da psique humana.