Crítica: The Sinner (1ª temporada)

Crítica: The Sinner (1ª temporada)

É quase impossível ficarmos um mês sequer sem alguma produção original Netflix, e nas últimas semanas tivemos (além da tão esperada segunda temporada de Stranger Things) grandes atrações, como as primeiras temporadas de Mindhunter e Alias Grace, além dos filmes Wheelman e 1922. Depois de todas essas joias, o pensamento que prevalece é que não haveria problema se a distribuidora tropeçasse em alguma produção a seguir, pois seria normal. Mas quando a Netflix compra os direitos da recente minissérie The Sinner, até então exibida originalmente no canal USA Network, faz parecer que a vida pode, sim, ser feita só de acertos – e dos bons.

Quando Cora Tannetti (Jessica Biel), uma jovem mãe de família comete um crime nefasto em público e se vê incapaz de explicar o motivo que a levou àquele estado súbito de fúria, um investigador chamado Harry Ambrose (Bill Pullman) se torna cada vez mais obcecado em entender as profundezas da psique da mulher, desenterrando os momentos de violência que ela tenta manter no passado, longe dos olhos do mundo.

A minissérie contém uma boa mensagem para passar adiante. Talvez não tão direta quanto desejada, mas que faz de sua história algo inspirador para os dias atuais, nos conscientizando sobre a gravidade que traumas psicológicos podem ter na vida de uma pessoa ou, mais precisamente, na vida de uma mulher. Junto a isso, embora a série não se chame The Sinners (plural), que significaria “Os Pecadores”, a narrativa conta pouco sobre cada um de seus personagens, mas os caracteriza bem, pois eles acabam sendo imperfeitos e pecam de uma forma ou de outra. Além da própria personagem principal, vemos o detetive Harry Ambrose traindo sua esposa e se “aventurando” em jogos sexuais de práticas sadomasoquistas com outra mulher. Após ver sua esposa Cora ser presa, Mason Tannetti (Christopher Abbott) toma decisões duvidosas, com base em informações vazadas por uma policial. Ou seja, todos são pecadores e o mundo é sujo por si só, mas ainda há a esperança de que ao menos a justiça seja cumprida.

Saindo de uma conversa reflexiva sobre a influência dos temas tratados por The Sinner, vamos direto para como o enredo mexe com seu público. Logo de cara percebemos que, apesar da série contar com ótimos atores coadjuvantes, seus personagens secundários existem apenas para tapar buracos e acrescentar minimamente à trama. Os holofotes estão todos direcionados para os experientes atores Pullman e, principalmente, Biel. Ambos estão muito bem encaixados em seus personagens. Economizam diálogos e transmitem seus sentimentos por meio de expressões, olhares e lágrimas. Quando aparecem juntos, toda ânsia de um bom desenvolvimento de cena é garantida.

O mais original da série é a maneira ela como consegue ter um ritmo lento, mas que nos prende até o último segundo. Após o clímax (assassinato cometido por Cora), nos damos conta de uma condução enigmática de suspense investigativo, em que Harry tenta descobrir a qualquer custo o que de fato motivou Cora a assassinar brutalmente um homem em público. Essa condução se desenvolve devagar, mas o que não permite que ela canse o expectador é o desconhecimento da história de vida de Cora. Esse elemento nos mantém atentos, curiosos e, aos poucos, nos é revelado por seus flashes de lembrança… até que no último episódio tudo se conecte e faça sentido.

Ainda que o roteiro e a direção seja compartilhada por várias pessoas diferentes, The Sinner vai além dos clichês do suspense e do drama quando se trata de desenvolvimento de narrativa. Tudo é muito bem construído, como o relacionamento de Cora com sua irmã Phoebe, a preocupação de Cora em ver seu filho, e o objetivo e determinação de Harry em provar que Cora é inocente. Jessica Biel está em um dos papéis mais cativantes e dramáticos de sua carreira, sempre com um olhar atento, porém triste.

A obra vale a pena ser vista por qualquer um que adore uma boa e amarrada história criminal. Não só pelo roteiro, mas também pelos ótimos movimentos de câmera, a oportuna montagem e sobretudo pela envolvente direção que conhece os meios de se destacar com um ritmo lento, porém interessantíssimo. Além disso, esta é uma ótima oportunidade para ver Bill Pullman interpretando um personagem de dar gosto.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

Um comentário em “Crítica: The Sinner (1ª temporada)

Comentários estão encerrado.