Crítica: As Viúvas
A força feminina em sua melhor forma
Arriscar a própria vida em prol de um assalto não nos parece tão difícil quando a outra alternativa é a certeza de nossa morte. Mesmo que algumas pessoas encarem isso como um problema, preferindo acompanhar roubos planejados por pessoas simplesmente ambiciosas e meticulosas, temos de admitir que é difícil não se engajar com a proposta de As Viúvas, uma vez que finalmente podemos nos deparar com uma história de assalto/roubo, planejado e executado por mulheres, realmente levado a sério, sem o excesso de humor que vemos em tantas produções hollywoodianas.
O enredo gira em torno de três viúvas que, após terem seus maridos mortos em uma grande tentativa de assalto, se vêem em situações financeiras complicadas, além de um evidente risco de vida. Então decidem seguir o caderno de planos de um dos cônjuges, e dar continuidade a um assalto arriscado, mas que com a união e esforço de cada uma delas pode ser possível, na tentativa de salvar suas vidas e garantir um futuro melhor para si mesmas e seus filhos.
De cara notamos uma ótima apresentação do momento vivido por estas mulheres, demonstrando diversidade das realidades entre elas. Ainda que Veronica, a personagem de Viola Davis, se encaixe como principal e sua história seja mais aprofundada que as outras, ficamos com um gostinho de satisfação ao ver que podemos nos projetar (homens e mulheres) facilmente nas situações vividas por todas, e principalmente torcer pelo sucesso de seus planos.
Enquanto Linda (Michelle Rodriguez) dedica-se a sustentar seus filhos mesmo após a perda de sua loja, Alice (Elizabeth Debicki) procura alguma forma de sobreviver, incluindo se envolver com um homem bem sucedido que a garante mordomias. Porém seu anseio por ser independente, aliado com o desespero de uma mãe determinada (Linda) e a coragem de uma mulher ameaçada de morte (Veronica), são o suficiente para agregar mais motivação às três viúvas diante de poucas escolhas.
Posteriormente, uma mulher chamada Belle (Cynthia Erivo) se junta ao grupo para ajudar no plano e também ganhar uma parcela do dinheiro. Ainda que Michelle Rodriguez e especialmente Elizabeth tenham em mãos papéis com alguns alívios cômicos, as atrizes seguram bem o drama de suas personagens, principalmente Viola Davis, que possui o maior enfoque dramático do filme.
O que incomoda desde o início do segundo ato é a pobre atenção que o roteiro dá ao planejamento do assalto, sendo tratado quase que sempre como algo simples, um tiro no escuro. Ainda que plausível, visto que aquelas mulheres não são nem de longe especialistas em assaltos, sentimos falta dos detalhes da operação, e de uma divisão maior de obrigações de cada uma das integrantes.
Outro possível problema na imersão do espectador é a frequente briga política entre dois candidatos a vereador na cidade, sendo que um representa os bairros e a população mais simples, enquanto o outro busca manter a tradição de sua família e atender os interesses da classe média e da elite. Isso, apesar de ser um caso a parte interessante, pouco se correlaciona com a trama principal, e mais serve como um pano de fundo da situação política e social vivida nos momentos atuais, do que de fato um complemento indispensável para a narrativa fluir. Inclusive, muitas vezes impede que a história se desenvolva fluidamente.
Porém, no geral, Steve McQueen entrega uma direção segura e como sempre, efetiva. Não abandona seus frequentes movimentos de câmera, principalmente suas panorâmicas demoradas que traçam um giro de mais de 180 graus para revelar o que está diante ou atrás de um personagem. A trilha de Hans Zimmer não brilha com tanta evidência como nos filmes de Nolan, mas garante o envolvimento do público na carga emocional das cenas.
As Viúvas está longe de ser um dos melhores filmes de assalto e roubo, mas é um dos mais marcantes sobre a força da determinação e união feminina, diante de um povo desacreditado, inconsequente e pouco cauteloso.