Crítica: Wanderlust (1ª Temporada)
A complexidade das relações
Eu demorei para assistir a Wanderlust. A série da Netflix estreou em setembro e, mesmo com a Toni Collette no elenco, a sinopse não me chamou muito a atenção. A história de um casal de meia idade que quer abrir o relacionamento me parecia distante demais do que ando procurando para ver depois do trabalho.
O que me fez dar um voto de confiança ao seriado foi a quantidade de episódios. São só seis e a vida é muito curta para seriados muito longos. Quando há poucos capítulos, a gente sabe que os roteiristas não terão muito tempo de encher linguiça. E a Netflix tem lançado uns europeus excelentes, como os franceses Le Chalet e O Bosque.
Foi por isso que eu apertei o play. Como já adiantei, a série conta a história do professor Alan (Steven Mackintosh) e da terapeuta Joy (Colette), juntos há mais de 20 anos e pais de três filhos. Sem vontade de transar um com o outro, o casal decide abrir o casamento, entendendo que o aspecto sexual é importante, mas não é a única coisa que os mantém juntos. Eles são amigos, eles são parceiros, eles são cúmplices.
Só que tudo isso não basta para o sucesso de um relacionamento. E o que é preciso para que uma relação dê certo ainda ninguém descobriu. A série ainda se passa em uma pequena cidade da Inglaterra, onde todos acabam sabendo do que acontece na casa do vizinho. E julgam, julgam, julgam. Julgamos todos e todos somos julgados.
Ainda que eu não tenha vivido a vida desses personagens, que tudo isso seja distante da minha realidade, que eu seja uma mãe solteira vivendo em uma cidade grande sem nunca ter experimentado a cumplicidade de um relacionamento muito duradouro (e muito menos aberto), Wanderlust me trouxe muito. Os diálogos são tão intensos que me faziam largar o smartphone durante todo o episódio – porque geralmente eu assisto as coisas entre uma olhadela e outra no Twitter, no whatsapp…
No penúltimo deles, me vi sentada ao lado de Joy e de frente para sua terapeuta. Fizemos a sessão juntas, onde pude entendê-la mais e me entender um pouquinho também. Nós duas, que nos jogamos no abismo em tantas circunstâncias, mesmo quando tudo parece bem. Me tocou fundo quando a terapeuta pergunta a ela: “Por que, Joy, se atirar em crise atrás de crise?”. Por que, Leonor?
Em muitos momentos, segurei a respiração sem perceber com as atuações da Toni Collette. Perdi a conta de quantas vezes quis abraçá-la depois de uma cena, mas os roteiristas parecem ter pensado em tudo: os abraços estão sempre lá.
As sinopses quase nunca fazem jus àquilo que se vai encontrar nas próximas horas ao abrir cada uma dessas caixinhas mágicas de um catálogo do streaming. Wanderlust é um seriado muito adulto, é verdade, eu não errei em imaginá-lo assim. Mas não se esgota apenas nas aventuras de um casal que quer mais liberdade sexual, com uma trilha sonora maravilhosa. Tem muito mais sobre nós nessa parceria entre BBC e Netflix.