Crítica: Le Chalet (1ª Temporada)

Crítica: Le Chalet (1ª Temporada)

Netflix lança minissérie francesa que impressiona com enredo amarrado e boa condução de suspense

Para quem não está acostumado com produções francesas (que já foi a mais prestigiada do mundo), Le Chalet é uma boa minissérie para conhecer algumas características sempre presentes em filmes franceses, que aqui também se fazem presente. Estou falando de um roteiro amarrado, uma montagem calma, e principalmente uma trilha musical onipresente que carrega todos os sentimentos do espectador em um único acorde. Além de amarrada, a história é bem interessante por fazer críticas ao o poder das influências familiares sobre seus filhos, a ambição e egoísmo das pessoas, e a famosa justiça com as próprias mãos.

Um grupo de amigos de infância/adolescência resolvem se reencontrar na cidade onde cresceram, e vão passar as férias em um chalé remoto nos Alpes franceses. Após um acidente envolvendo a ponte da cidade, eles se vêem presos na cidade e começam a suspeitar que são alvos de uma armadilha fatal. Logo suas teorias se confirmam quando segredos do passado são revelados. Na minissérie, que se passa em duas épocas distintas (com diferença de 20 anos), cada personagem esconde algo do outro, o que vai apimentando o enredo com pequenas dúvidas e teorias plantadas na cabeça do espectador, teorias essas muito bem finalizadas em apenas 6 episódios.

Alguns personagens secundários acabam não sendo tão explorados (visto o tempo e o número de episódios), mas todos se fazem importante para a construção de uma narrativa sobre famílias, ganância, relacionamentos e vingança. O que chama a atenção do público é a belíssima maquiagem da minissérie, que consegue de maneira inigualável caracterizar os personagens com uma diferença de 20 anos (boa parte interpretada pelos mesmos atores), seja pelos cabelos brancos ou através do envelhecimento facial.

Mesmo sem atuações memoráveis (ainda suficientemente boas para dar vida aos personagens que compõem o vilarejo), Le Chalet surpreende pela forma como vai levando o espectador a se sentir desconfiado de tudo e todos, assim como os personagens. Com uma tensão gradativa que nos prende desde o primeiro episódio, é uma experiência muito prazerosa se jogar em uma narrativa tão bem construída, que mesmo se caracterizando primariamente como suspense, não deixa de trazer cenas dramáticas e emocionantes. Claramente, há alguns pequenos furos de roteiro ou ocasiões que nos deixam um tanto quanto incrédulo, mas não prejudicam o trajeto emocional do espectador.

Além da história, a minissérie se garante tecnicamente. A montagem ajuda a contar a história sem confundir o espectador com o tempo e o espaço, ainda que não vejamos uma identificação tão evidente da diferença de época como vimos em 13 Reasons Why (uma colorização amarelada para caracterizar o passado). Aqui, o envelhecimento dos personagens/atores é o suficiente para o público se ambientar na época de cada cena, pois diferentemente da série americana, o presente e passado de Le Chalet não são tão próximos.

Apesar de alguns bons enquadramentos, a direção e a fotografia por vezes pecam ao utilizar de movimentos de câmera corriqueiros e desnecessários que lembram uma “câmera na mão”, mas em terceira pessoa, o que faz o espectador desejar desesperadamente a presença de um SteadyCam ou mesmo um tripé. A arte opta por tons rústicos (que remete e reforça a ideia de chalé) e uma variedade de figurinos que se destacam por cores fortes no presente, e por cores menos saturadas/intensas no passado. Porém é a trilha musical que mais brilha na minissérie. São melodias que flertam com a melancolia das cenas, e ao mesmo tempo estimula o suspense da história, além de serem belíssimas ouvidas separadamente (sem influência da minissérie em si). Pra ser honesto, não me lembro qual foi a última vez (se é que houve) que me peguei ouvindo novamente a trilha musical de uma minissérie no Spotify. Simplesmente viciante.

Ao todo, Le Chalet é uma minissérie para se entregar. Sentir, amar e sofrer junto com os personagens. Se surpreender com mortes e reviravoltas, além de vivenciar uma história bastante convidativa. Não se deixe levar pela falta de divulgação da minissérie, que acabou entrando de fininho na Netflix e passou despercebida por muita gente. Se dê uma chance e vá conferir essa produção francesa que tem de tudo pra te agarrar por algumas horinhas.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.