Crítica: Samantha (2ª Temporada)

Crítica: Samantha (2ª Temporada)

Além do ego

Samantha segunda temporada

Depois de ter seus melhores momentos na primeira temporada como uma paródia do mundo das celebridades esquecidas da cultura pop brasileira, os novos episódios de Samantha! mostram uma clara evolução, aprofundando o drama da protagonista sem perder o tom cômico.

Se ainda no início da segunda temporada o mote principal parece ser a cinebiografia nada elogiosa que os antigos colegas da Turminha Plimplom, grupo musical da qual a personagem-título fez parte na infância, logo a trama se revela um mergulho nos traumas da antiga estrela mirim, vivida com muita desenvoltura por Emanuelle Araújo, ainda mais à vontade num papel que vai ganhando novas dimensões com o passar dos capítulos.

O enredo melhora a partir do encontro de Samantha com uma diretora teatral arrogante e supostamente culta, que a escala para sua nova produção. Disposta a mostrar seu valor como atriz séria, a protagonista encara o desafio, apesar dos ensaios pouco ortodoxos e de uma descrença geral.

Ao partir para este cenário, a série muda o alvo de suas piadas. Se na primeira temporada a intenção era tirar sarro de quem faz tudo para permanecer no holofote, agora as participações de figuras como Luciana Gimenez e Gretchen são curtíssimas, abrindo espaço para a atração brincar também com aqueles que encaram o showbusiness com uma postura blasé.

Com o passar dos episódios, fica claro também como a questão da maternidade é central. Samantha! se revela a história de como uma órfã se tornou a filha do Brasil e se viu dependente do amor do público desde então.

Porém, o calcanhar de aquiles continua sendo o desenvolvimento dos personagens secundários. Muitas das situações envolvendo o núcleo familiar da personagem de Emanuelle têm tratamento raso, como quando o filho Brandon desconfia ter sido adotado e a dúvida é resolvida de forma rápida e diante de uma explicação capenga, sem que a questão nunca tenha aparecido antes ou seja retomada depois.

Com menos responsabilidade na trama em relação aos colegas, Daniel Furlan e Lorena Comparato se destacam entre o elenco coadjuvante. Dodói (Douglas Silva) ameaça se fazer mais presente, com a aparição de sua mãe, Socorro (Zezeh Barbosa), e uma menção ao que seria seu conflito principal, de querer sempre estar agradando alguém, mas fica sempre à sombra de Samantha, como é o risco de toda série ancorada numa personagem mais forte do que as demais.

O arco da heroína conduz os episódios numa crescente, garantindo a diversão e segurando o interesse. No final, a eterna criança espevitada parece amadurecer, ao assumir responsabilidade por um erro de outra pessoa, mesmo que isso possa arriscar sua imagem. A temporada termina então em um momento catártico, que cai bem como conclusão até mesmo caso a Netflix decida encerrar a atração por aqui.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil