Crítica: Relatos do Mundo
Relatos do Mundo, dirigido por Paul Greengrass, contém passagens nas quais o protagonista Jefferson Kyle Kidd (Tom Hanks) traz as notícias para um público cativo, mas este não é o foco do longa. O núcleo desta produção se encontra na relação de Kidd com Johanna (Helena Zengel), uma jovem órfã alemã encontrada à beira de uma trilha com vestimentas indígenas, e na jornada que os dois tomam juntos rumo ao único resquício de lar com o qual a garota ainda conta.
O título, então, torna-se um aspecto bastante trivial, apesar de ser primeiramente o que dá a este western alguma distinção. Nenhuma instância da leitura de jornais realizada por Kidd se desenvolve por mais que dois minutos, com elipses que logo transportam o espectador para outros momentos. Na verdade, é possível dizer que nenhuma instância do longa se desenvolve por completo, conceitualmente falando.
Bons momentos como um tiroteio em um rochedo e a visita da garota ao seu lar original se destacam pela maior quantidade de tempo dedicada a eles, mas muitos outros acabam sendo no máximo protocolares quando deviam sublinhar efetivamente aspectos importantes da narrativa, como aquele no qual Kidd estabelece uma conversação com Johanna e descobre os sentidos da língua indígena que a menina fala e crê ser sua de natureza.
Um trecho como este de Relatos do Mundo possui três instâncias de desenvolvimento: primeiro a tentativa de comunicação, em segundo lugar a compreensão e, por fim, uma recompensa, esta sendo a descoberta de que Johanna ainda guarda memórias remanescentes de seu idioma alemão original. Sob o comando de Greengrass, todas as etapas se desenrolam com uma brevidade que mina seu impacto, e o mesmo pode ser dito de tantas outras cenas (a insurreição dos trabalhadores é outro exemplo).
Para compor seu western, visualmente falando, o diretor de O Ultimato Bourne aposta em dois tipos de ângulo: o establishing shot suntuoso que define a locação, e a câmera na mão imediatista que, em planos geralmente fechados, se aproxima das personagens em cena. Às vezes a combinação entre os dois resulta, por contraste, em estranheza, como na cena em que Kidd e Johanna fogem de bandidos com sua carruagem.
O resultado é um western com menos brilho do que, por exemplo, Os Indomáveis de James Mangold ou até mesmo Slow West, aquela joia escondida estrelando Michael Fassbender e Kodi Smit-Mcfee. Há momentos belos aqui e ali, contando ainda com um elenco de apoio que poderia ser melhor aproveitado (o grande Bill Camp possui pouco mais que cinco falas), mas no fim temos algo diluído, ralo, leve.
Contudo, os trabalhos de Hanks e Zengel são muito mais consistentes e sustentam o corpo de Relatos do Mundo. A química em cena se estabelece razoavelmente rápido e traz uma certa recompensa emocional ao final, feito sob medida para ser um crowdpleaser. Portanto, quem for assistir ao longa de Paul Greengrass esperando pelo bom desempenho dos protagonistas será agradado (vale também destacar a bela trilha de James Newton Howard).
Já aqueles que esperam por grandes relatos, continuarão esperando. Ao menos, ficam os acenos a um país dividido (o longa se ambienta após a terrível Guerra de Secessão), em que “são tempos difíceis” nos quais “todos estão sofrendo” e até mesmo o dinheiro se torna munição. Claro, pode soar um tanto quanto centrista generalizar o conflito da guerra civil apenas a isso, mas pelo menos temos um filme de seu tempo (ou que tenta ser).