Crítica: Neruda
O diretor chileno Pablo Larraín tem mostrado ao mundo do cinema ótimos filmes com sua assinatura. Desde Tony Manero, de 2008, conseguiu chamar a atenção de alguns críticos e, mesmo que ainda não tivesse se destacado para o cenário mundial, o diretor já mostrava que seria uma força do cinema chileno. Foi com o ótimo No, de 2012, que mostrou seu ‘cartão de visita’, levando um prêmio no mais renomado festival de cinema do mundo: Cannes.
Dos louros de Cannes em diante, houve uma inversão. Não seria mais o diretor Pablo Larraín que iria atrás do cinema, e sim, este que buscaria o diretor. Em 2015, ele faria seu melhor filme, o avassalador O Clube, que explorou os ‘porões’ da Igreja católica.
Agora, neste ano, Larraín trabalhou mais que o normal para qualquer diretor, com dois filmes (!). Um destes, Neruda (indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro), que é um drama “biográfico” (notar aspas!), narra a ‘caçada’ ao poeta ganhador do Nobel e senador do Partido Comunista, Pablo Neruda (Luis Gnecco, bem e competente), no final da década de 1940, que foi imposta pelo então presidente do Chile, Gabriel González Videla (Alfredo Castro). Videla designou tal missão ao inspetor-chefe Oscar Peluchonneau, interpretado pelo ator mexicano mundialmente conhecido Gael García Bernal, que, com um personagem que apresentou uma mistura de inocência/ignorância, atuou de forma frouxa em boa parte do filme.
Neruda continua nivelando a filmografia de Pablo Larraín por cima, mesmo este sendo bem menos dilacerante que O Clube, ou historicamente vibrante como No. O maior mérito de Neruda é seu roteiro, que audaciosamente busca ir além da típica biografia do estilo ‘cradle to the grave’ (do berço ao túmulo). Na realidade, este filme é mais uma ‘ficto-biografia’, pois mistura ficção aos acontecimentos reais relacionados à perseguição política aos comunistas que ocorreram, não apenas no Chile, mas em vários pontos do globo.
Esse aspecto ‘ficto-biográfico’ propõe maior liberdade ao enredo de transitar entre gêneros, considerando menos o fator histórico como o primordial da narrativa. Uma qualidade, mas que levanta ressalvas. A história no filme é narrada pelo personagem do ‘policial perseguidor’ Peluchonneau, obstinado em capturar o ‘foragido vermelho’ Neruda. Estas narrações misturam poesia, ficção e um leve humor, com falas que estereotipam tanto comunistas como a burguesia chilena (boa qualidade!).
A defasagem aqui, acontece porque este roteiro inventivo não harmonizou muito bem com boa parte do filme, que usa de cortes secos de edição (principalmente em seu primeiro ato) que não estabelecem um melhor proveito de fatos relevantes, e também de uma fotografia fria e cinzenta (similar ao filme O Clube). Esses artifícios técnicos não se equilibram bem com um roteiro fluente e poeticamente pulsante como temos em Neruda, fazendo com que o filme, mesmo entre a ficção e a realidade, sofra de identidade em algumas partes.
Em seu terceiro ato (melhor parte!), percebemos qual foi a intenção do diretor em fazer este filme. Aproximando ‘perseguidor’ e ‘foragido’ percebemos suas similaridades, e fogo pela aventura destemida. Peluchonneau é um alter ego de Neruda, como um herói da literatura. Ambos contestadores, românticos, desbravadores em natureza. O diretor Pablo Larraín quis homenagear com uma ode ao impacto e força da palavra deste renomado (e até mítico) poeta chileno. Neruda é uma carta de amor ao personagem-título.
Agora, nos resta esperar para ver como será o outro trabalho de Larraín em 2016 (e que estreará aqui no Brasil em 2017): sua primeira investida em Hollywood com o drama biográfico Jackie, filme sobre a Primeira Dama americana Jackie Kennedy, interpretada por Natalie Portman – e a qual Larraín descreveu como insondável.
FICHA TÉCNICA
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Guillermo Calderón
Elenco: Luis Gnecco (Pablo Neruda); Gael García Bernal (Oscar Peluchonneau); Alfredo Castro (Gabriel González Videla); Mercedes Morán (Delia del Carril)
Produção: AZ Films; Casting del Sur; Fabula; Funny Balloons; Participant Media; Reborn Production; Stembro Cine; Televisión Federal; 20th Century Fox; Wild Bunch; The Orchard
Gênero: Drama biográfico
Duração: 107 minutos
Classificação: 12 anos
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