Carrie Fisher: muito mais do que uma princesa

Carrie Fisher: muito mais do que uma princesa

No cinema, Carrie Fisher ficou mundialmente conhecida por interpretar a Princesa/General Leia Organa na franquia Star Wars. Filha do músico Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds, protagonista do clássico Cantando na Chuva, Carrie praticamente nasceu dentro de Hollywood e se tornou não só a atriz que deu vida à Leia, mas uma importante escritora, roteirista e ativista. Neste ano, a atriz recebeu um prêmio da Universidade de Harvard por seu ativismo em relação às doenças mentais, em especial a bipolaridade e o abuso de drogas. Carrie Fisher infelizmente nos deixou no dia 27 de dezembro após sofrer um ataque cardíaco durante um voo que ia de Londres a Los Angeles, seguida por sua mãe, Debbie, que faleceu no dia seguinte (28 de dezembro) em decorrência de um derrame.

Se você não conhece os outros trabalhos de Fisher, prepare-se para descobrir que ela é uma mulher muito mais forte do que você imaginava.

ATRIZ IRREVERENTE

Carrie Fisher começou a sua carreira como atriz na televisão, ao lado de sua mãe, Debbie Reynolds. O seu primeiro papel de destaque no cinema foi em 1975, aos 19 anos, no filme de comédia Shampoo. Mas foi somente em 1977 que Carrie ficou mundialmente famosa no universo cinematográfico após ser escalada para interpretar a Princesa Leia Organa. A personagem era uma princesa fora dos padrões estipulados na franquia criada por George Lucas. Dona de uma personalidade forte, Leia era corajosa e lutava ao lado de Han Solo (Harrison Ford) e Luke Skywalker (Mark Hamill). Foi Organa que, em uma época muito machista (não que essa situação tenha mudado hoje), mostrou que as mulheres também pertencem ao mundo nerd.

Para além de Star Wars, Carrie Fisher atuou em mais de 30 filmes e o seu trabalho mais recente foi no documentário Bright Lights: Starring Carrie Fisher and Debbie Reynolds. Outros papéis de destaque da atriz foram nos filmes: Under the Rainbow (Annie Clark, 1981); When Harry Met Sally (Marie, 1989); Drop Dead Fred (Janie, 1991); Hannah and Her Sisters (April, 1986); Além disso, Carrie participou de seriados de sucesso como Sex and The City (como ela mesma), 30 Rock, The Big Bang Theory, Smalville e Weeds. Em 2017, veremos Carrie pela última vez como Leia Organa no episódio VIII de Star Wars, já que todas as cenas da atriz estão gravadas.

ESCRITORA E ROTEIRISTA

O primeiro livro de Carrie Fisher foi publicado em 1987 e se chama Postcards From The Edge. A obra conta a história da atriz Suzanne Vale enquanto ela tenta reorganizar sua vida após sofrer uma overdose. Postcards From The Edge foi adaptado para o cinema em 1990 no filme Lembranças de Hollywood, estrelado por ninguém menos que Meryl Streep e Shirley MacLaine. O roteiro foi assinado pela própria Carrie.

Mas esse não é o seu único livro. Do gênero ficção, Carrie lançou o romance Surrender the Pink (1990), Delusions of Grandma (1993) e The Best Awful There Is (2004). Mas os destaques vão para as obras de não-ficção da atriz. Em Wishful Drinking, Carrie conta com bom humor alguns episódios de sua vida pessoal e artística. O livro fez tanto sucesso que rendeu um documentário produzido pela HBO. Shokaholic foi lançado em 2012 e conta a história cheia de escândalos do casal Eddie Fisher e Debbie Reynolds, pais da atriz. Por último, Carrie Fisher lançou este ano o livro Memórias da Princesa – O Diário Secreto de Carrie Fisher. No Brasil, a obra é publicada pela Editora Record. Nele, Carrie conta sobre a sua experiência de gravar Star Wars e fala abertamente sobre o relacionamento amoroso que teve com o ator e companheiro de elenco, Harrison Ford, que interpretava Han Solo.

Uma curiosidade é que, mesmo nos seus livros de romance, Carrie tinha como inspiração a sua própria realidade. Em The Best Awful There Is, Fisher usou como inspiração o seu relacionamento com Bryan Lourd, pai de sua filha, Billie Lourd. As suas histórias, sejam as de ficção ou autobiográficas, sempre falam abertamente sobre drogas e problemas mentais.

ATIVISTA NA CONSCIENTIZAÇÃO DE SAÚDE MENTAL

Carrie Fisher sempre falou abertamente sobre o uso de drogas e o seu problema mental. A atriz sofria de bipolaridade em um momento que pouco se sabia sobre a doença. Em uma entrevista, ela disse que as drogas a faziam se sentir “uma pessoa normal”, minimizando os efeitos de seu transtorno bipolar. Tanto que durante as filmagens de O Império Contra-Ataca, Carrie revelou passar a maior parte do tempo sob o efeito de cocaína. E foram essas entrevistas reveladoras para a mídia que fizeram com que outras pessoas se identificassem e começassem a procurar ajuda. Por isso, a atriz recebeu um prêmio da Universidade de Harvard por seu ativismo em relação às doenças mentais em 2016. Carrie mostrou a importância de falar sem medo e preconceitos sobre doenças que ainda afetam uma boa parte da população.

UMA MULHER FORTE

Atriz, escritora, roteirista, ativista, mãe. Carrie Fisher sempre foi uma mulher independente e dona de uma personalidade forte, mesmo com uma vida tão conturbada. A princesa fora dos padrões ainda é um ícone e isso não teria acontecido se, em sua atuação, Carrie não tivesse colocado sua essência. A verdade é que Fisher, desde a sua juventude até o dia de sua morte, foi uma personalidade grandiosa e essencial para o mundo. Não há problema nenhum se lembrar da atriz como a Princesa Leia da grande franquia de George Lucas. Nós já falamos: ela é uma personagem que segue sendo exemplo para diversas gerações (e que continue assim), mas é necessário conhecermos a grande mulher para além de Star Wars.

Que a Força esteja com Carrie Fisher. Descanse em paz!

Jaquelini Cornachioni