Crítica: Apostando Tudo
Como de costume, tivemos mais uma estreia original sorrateira na Netflix nas últimas semanas: Apostando Tudo, mais novo filme do diretor indie Joe Swanberg, do ótimo Um Brinde à Amizade e a cativante série Easy.
Logo em sua sequência de créditos iniciais, o problemático protagonista Eddie (Jake Johnson) é apresentado em toda sua decadência. Imediatamente identificado como um viciado em jogo, Eddie tem um emprego mísero estacionando carros em um estádio e perde o pouco que ganha em seu vício nas madrugadas que seguem. Até que certo dia, um homem o dá a missão de guardar sua bolsa enquanto cumpre tempo na prisão. É claro: há uma quantidade exorbitante de dinheiro na mala, então só adivinhem o que vem a seguir.
Em sua quarta parceria com o ator Jake Johnson, Joe Swanberg desenha um de seus personagens mais interessantes até hoje, beneficiado por uma estrutura mais convencional de roteiro. Talvez Eddie não seja o sujeito mais simpático, mas sua tensa e agridoce jornada cativa e chega a seu fim tendo ao menos conquistado a empatia do espectador.
Johnson, conhecido principalmente por seu papel na série New Girl, demonstra mais uma vez aqui que é um dos melhores de sua geração. Com papeis de alívio cômico em superproduções como Jurassic World, o ator brilha em projetos menores, e aqui entrega sua melhor atuação até hoje ao carregar um roteiro quase todo nas costas. Ao contrário dos protagonistas mumblecore dos projetos anteriores de Swanberg, Johnson compõe Eddie de maneira tridimensional, evidenciando um alcance dramático que, caso valorizado, irá torná-lo uma estrela.
O resto do elenco, apesar do pouco tempo de tela, também marca. Temos o ótimo Joe Lo Truglio em um papel atipicamente dramático, conferindo ao irmão de Eddie uma sensatez carinhosa seguida de imposição (completamente justificada). Também temos Keegan Michael Key como o melhor amigo de Eddie, mais uma vez surpreendendo fora de sua conhecida persona cômica e em certos momentos mostrando uma intensidade apenas vista no excelente Don’t Think Twice, ainda sem distribuição no Brasil (alô, Netflix).
O roteiro, escrito por Johnson e Swanberg, acerta em cheio na premissa, quase um high-concept em sua simplicidade. Mas claro, estamos falando de um filme de Joe Swanberg, então sempre há mais do que o olho vê. Apesar da superficialidade, desenvolve-se uma relação amorosa entre Eddie e Eva (Aislinn Derbez), que o conhece em uma noitada, trazendo ao protagonista um possível contrapeso à sua própria natureza autodestrutiva. É uma pena que em seus minutos finais, quando se esboça uma forte e corajosa conclusão, o longa opte por respostas fáceis e vá na direção contrária do que seria astronomicamente mais impactante. Ainda assim, a emoção está toda lá.
Fotografado por Eon Mora em 16mm bastante granulados, Apostando Tudo, apesar de se classificar como uma comédia, traz à memória os thrillers urbanos da década de 70 e 80. A estética casa perfeitamente com o olhar de Swanberg, quase documental em seu retrato voyeurístico e intimista de suas personagens, sendo também responsável pela montagem (assim como na maioria de seus projetos). Por fim, a trilha de Dan Romer figura como uma adição bem-vinda ao conferir uma atmosfera retrô ao longa.
Com apenas 88 minutos de duração, Apostando Tudo é mais uma (err) aposta cinematográfica da Netflix que, apesar de relativamente segura, resulta em ganho, tanto para a plataforma quanto para o espectador, mesmo que saia do jogo um pouco cedo demais.
FICHA TÉCNICA
Direção: Joe Swanberg
Roteiro: Jake Johnson, Joe Swanberg
Elenco: Jake Johnson, Joe Lo Truglio, Keegan Michael-Key, Aislinn Derbez
Fotografia: Eon Mora
Montagem: Joe Swanberg
Trilha Sonora: Dan Romer
Duração: 88 min
Distribuição: Netflix
Gênero: Drama / Comédia