Crítica: El Pampero

Crítica: El Pampero

Este filme faz parte da programação oficial da 41ªMostra Internacional de Cinema em São Paulo.

O lado ruim e o lado bom de uma jornada são o mesmo: não sabemos aonde ela nos levará. Por isso mesmo que El Pampero, suspense argentino do diretor Matías Lucchesi, inicialmente cativa, apenas para ao longo do caminho perder sua força exponencialmente.

Acompanhamos, de início, a fuga de Fernando (Julio Chávez) de sua vida e família em Buenos Aires, devido a uma doença aparentemente terminal. As informações necessárias são comunicadas de maneira econômica, como por exemplo os telefonemas do filho não correspondidos pelo pai, que apressadamente faz as malas, enquanto o triste rosto de Chávez já diz tudo sobre a dura escolha que enfrenta: a bordo de um barco, deixar tudo para trás e enfrentar, sozinho, sua mortalidade.

A história então toma uma guinada, a princípio promissora, mas que abre as portas para os maiores problemas do longa: uma jovem mulher (Pilar Gamboa), ensanguentada, invade o barco de Fernando sem que este saiba, no intuito de se esconder da polícia após um violento crime que jura não ter cometido. Convenientemente, Fernando apenas descobre a presença da invasora em alto mar. Carla é seu nome, e implora ao homem que não a entregue à lei e a leve para o Uruguai, seu país natal.

A dinâmica inicial entre a dupla de protagonistas é bastante interessante, sempre vaga a ponto de evitar os lugares comuns de histórias desse tipo. O silêncio prevalece, permitindo que a atmosfera tome conta dos trechos iniciais, com uma forte sensação de isolamento. Infelizmente, a mágica some a partir do momento em que, nos canais que levam às terras uruguaias, deparam-se com Marcos (César Troncoso), policial e velho amigo de Fernando. As intenções do personagem ficam claras desde sua primeira aparição, claramente um sujeito escorregadio e intrusivo.

A tensão até poderia ter sido bem construída, mas a vilanização de Marcos assume contornos tão simplistas e implausíveis, que acabam levando o longa a momentos dignos de um suspense de quinta categoria. Assim que Troncoso solta a fala “Não há segredos na minha casa!”, durante um “tenso” jantar, toda a promessa inicial de El Pampero já desapareceu.

Além disso, a personagem de Clara é injustiçada pelos decepcionantes rumos do roteiro. Apesar da boa interpretação de Gamboa, a moça é limitada ao papel de dependente e vítima, escrita de maneira nonsense ao fazer escolhas que servem apenas para colocá-la em perigo no ato final. Claro, o trágico herói estará lá para salvá-la, consolidando o enredo como uma genérica fantasia masculina de redenção e autodescoberta.

Não fosse pela fotografia competente, a trilha-sonora imersiva ou a excelente atuação do veterano Chávez, seria difícil notar os aspectos mais promissores de Matías Lucchesi, diretor, em meio ao roteiro co-escrito pelo próprio. Em seus 37 anos de idade, Lucchesi ainda é um jovem realizador com um bom olho para imagens e interpretações, tendo ganhado o grande prêmio do júri no Festival de Berlim 2014 por seu filme de estreia Ciências Naturais. El Pampero, nomeado em referência à corrente de ar frio que percorre o sul do nosso continente, acaba por esfriar um pouco esse início de carreira de Lucchesi, que, no melhor dos casos, retornará com um roteiro que complemente suas demais qualidades.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

Um comentário em “Crítica: El Pampero

Comentários estão encerrado.