Crítica: Patti Cake$

Crítica: Patti Cake$

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, Patti Cake$ é tão repleto de vigor e personalidade quanto sua protagonista

Há muitos filmes de superação por aí. Muitos. Um dos mais famosos é Rocky – O Lutador, cuja fórmula se esgotou dentro de sua própria franquia, até ser revitalizada em Rocky Balboa e principalmente Creed. Ainda assim, o subgênero cinematográfico do pária, ou underdog, que sonha alto e passa por altos e baixos até obter sucesso é repleto de exemplares dispensáveis, algo que Patti Cake$, que conta com produção do brasileiro Rodrigo Teixeira, com certeza não é.

Estreia na direção de filmes por Geremy Jasper, cuja experiência consiste em videoclipes, Patti Cake$ pega a fórmula de superação e a veste com personagens únicos, um ritmo enérgico e boa música, além de ótimos momentos de comédia. Conta a história de Patricia Dombrowski, aka Killa P, aka Patti Cakes, que sonha com uma carreira como rapper junto de seu melhor amigo Jheri, mas que vive com uma mãe alcoólatra e a avó doente em uma cidade não muito bacana de New Jersey.

O que mais impressiona é o elenco, principalmente a protagonista encarnada por Danielle Macdonald, que simplesmente brilha na construção de Patti e em sua lábia veloz para o rap. Outra a brilhar é a comediante e cantora Bridget Everett (Pequeno Demônio) como a mãe de Patti, em um papel bem mais sério do que está acostumada a escolher, mas Everett surpreende e entrega momentos fortíssimos junto de Macdonald. Cathy Moriarty, por sua vez, diverte como a avó de Patti e Siddharth Dhananjay executa o papel de Jheri com carisma.

Já a condução de Geremy Jasper é positivamente despojada, adequada para a comédia mas também trazendo veracidade aos momentos mais sérios ou sóbrios do longa. Sua experiência com clipes musicais então garante um ritmo pulsante a Patti Cake$, além de uma linguagem visual bastante divertida nos trechos em que a personagem principal sonha acordada. Seu lado mais interessante, porém, está na condução extremamente madura dos atores, além de seu olho naturalista ao traduzir o cotidiano frustrante de Patti.

Mas Jasper ainda vai além: junto de Jason Binnick, criou uma trilha musical memorável e impactante, que diz volumes sobre sua personagem central. Claro, não é muito plausível que Patti e Jheri produzam um conteúdo plasticamente tão bom na situação que se encontram, mas isso é fácil de ignorar quando há sentido dramático que se justifique nas faixas. Uma das últimas, intitulada Tuff Love, traz uma mistura inusitada de glam rock e rap e ainda emociona em seu uso acertado na narrativa.

De uma perspectiva estética, não é sempre que a câmera na mão, às vezes chamada de shaky-cam, funciona. Aqui em Patti Cake$, fotografado por Federico Cesca, acredito que o estilo de registro casou muito bem com a atitude DIY dos personagens,  além de trazer imagens vibrantes nas cenas de sonho, separando realidade e imaginação com clareza. A montagem de Brad Turner, então, faz um bom trabalho de deixar a narrativa em fluxo, com direito a uma “montage” cheia de energia lá pela metade do filme.

Patti Cake$ pode não explodir mentes, mas diverte e emociona. Com seu filme indicado ao prêmio de Melhor Primeiro Filme nos Film Independent Spirit Awards 2018, Geremy Jasper emerge como talento promissor, assim como Danielle Macdonald e a própria personagem que encarnou. Sua história tem clichês ou lugares-comuns? Com certeza. Mas a honestidade que se reflete na direção, atuações e as ótimas letras faz valer mais essa viagem a uma categoria de filmes que se sustenta na empatia e na identificação.


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Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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