A utopia da mulher perfeita no cinema
Cada vez mais as mulheres estão lutando para conquistar os seus direitos nessa sociedade ainda muito machista e conservadora. Exatamente por isso, o feminismo se tornou um assunto bastante comentado e discutido. Eu poderia citar diversos motivos que deixam evidente a importância desse movimento para as mulheres em pleno século XXI, mas basta ter o mínimo de consciência para compreender que ser mulher é viver com o medo de ser assediada ou estuprada só pelo simples fato de… ser mulher – como se fôssemos obrigadas a aguentar o desrespeito nas ruas e no transporte público todos os dias. E, claro, esse cenário precisa mudar. Além disso, muitos homens ainda veem as mulheres de forma estereotipada, normalmente como seres adoráveis, meigos e que são graciosos até em seus defeitos. Por incrível que pareça, certos filmes ensinam que as coisas são assim mesmo. Eu estou falando sobre a Manic Pixie Dream Girl. Se você ainda não ouviu falar sobre esse termo (o que eu duvido), é importante saber mais.
O termo Manic Pixie Dream Girl foi criado pelo crítico Nathan Rabin, que escreveu sobre isso pela primeira vez para descrever a personagem completamente surreal da atriz Kirsten Dunst no filme Tudo Acontece em Elizabethtown. E talvez apareça a pergunta: como reconhecer uma MPDG? Não é difícil! Esse tipo de personagem retrata uma mulher perfeita e que, sinceramente, não existe na vida real. A Manic Pixie Dream Girl é divertida, otimista, excêntrica, possui um ótimo gosto musical e até os seus defeitos são atrativos (na verdade, nem são defeitos). O pior: essas personagens só estão no filme normalmente para melhorar a vida do protagonista solitário e que está passando por um momento difícil. E elas servem apenas e exclusivamente para isso. É incrível como elas não têm um dia ruim, não possuem problemas e estão sempre dispostas.
Veja bem, o problema aqui não é o fato de uma mulher estar se esforçando para melhorar a vida de uma pessoa querida, seja um amigo, namorado, marido. O problema está no fato da Manic Pixie Dream Girl não ter o mínimo de personalidade. Para vocês terem uma noção melhor de como identificá-las, na maioria das vezes elas aparecem no filme de repente e não há uma introdução de como são suas vidas pessoais (trabalho, problemas, família). Ah, e outra coisa: essas mulheres são sempre lindas. No começo, você vai querer ser perfeita como elas até perceber que beira o surreal ser tão isenta de erros. O normal mesmo é ter defeitos como qualquer ser humano e não há problema algum nisso.
Por mais que você goste de filmes com Manic Pixie Dream Girl como Hora de Voltar, 500 Dias com Ela, Tudo Acontece em Elizabethtown e etc, é bom entender que esse tipo de mulher não existe. Elas são inventadas exclusivamente “para ensinar jovens homens profundos, cismados e sentimentais a aproveitar a vida e seus infinitos mistérios e aventuras”, como o próprio Nathan Rabin definiu em sua crítica. Logo, não é real. Uma prova disso é que, nos três filmes citados, a história praticamente se repete.
Em Tudo Acontece em Elizabethtown, Drew (Orlando Bloom) era um homem muito bem sucedido no trabalho, até o seu grande projeto fracassar. Para piorar, o pai do personagem morre e ele se vê obrigado a ir até sua cidade natal para o enterro. No caminho, ele conhece Claire (Kirsten Dunst), uma moça alto astral que melhora a sua vida. No filme 500 Dias com Ela, Tom (Joseph Gordon-Levitt), um homem sensível e alternativo, conhece Summer (Zooey Deschanell), assistente de seu chefe, e os dois ficam próximos. Summer é a típica Manic Pixie Dream Girl: doce, meiga, linda, atrapalhada e com manias esquisitas que a deixam ainda mais atraente. Quando paramos para pensar, a personagem não tem uma personalidade própria definida e não há qualquer aprofundamento na vida dessa garota. Summer está ali para ajudar o protagonista e só a conhecemos através dos olhos dele, como se ela fosse obra de sua imaginação. E sabe o que é mais engraçado? Ela dá nome ao título do filme (500 Days of Summer, em inglês), mas o longa não é sobre ela.
Já em Hora de Voltar, Andrew (Zach Braff) é um homem melancólico e introspectivo, viciado em medicamentos pesados. Tudo muda quando ele conhece Sam (Natalie Portman), uma jovem que, apesar de ser uma mentirosa compulsiva, é linda e a personificação da alegria, além de ter um coração maravilhoso. Sam é, assim como Summer e Drew, a famosa personagem que está ali para fazer a história do protagonista ter algum sentido, já que a história dela não é contada de forma profunda (isso quando é contada!). Ela é a nossa Manic Pixie Dream Girl, cheia de idealizações masculinas: é a mulher que tem como único objetivo inspirar a vida de um homem, a mulher que não possui vida própria.
Por isso, separei quatro filmes que retratam mulheres que se distanciam do estereótipo de Manic Pixie Dream Girl. E quer saber? Eu aposto que vocês vão se identificar bem mais com elas!
– Thelma & Louise (1991);
– 10 Coisas que Odeio em Você (1999);
– Orgulho e Preconceito (2005);
– Mad Max: Estrada da Fúria (2015).
Também gostaria de citar personagens femininas fortes como Hermione Granger (Harry Potter), Beatrix Kiddo (Kill Bill), Mulan, Princesa Leia (Star Wars), Rey (Star Wars), Katniss Everdeen (Jogos Vorazes).
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