Cine PE 2018: Cobertura do 4º dia
Documentário sobre cartunista Henfil e mais uma ótima sequência de curtas fortalece ainda mais a programação do festival pernambucano
Com a apresentação de cinco curtas dentro da competição nacional, o Cine PE manteve o nível elevado em sua programação deste ano. O Cinema São Luiz continuou cheio até a hora da apresentação do documentário sobre Henrique de Souza Filho, mais conhecido como Henfil, e arrancou muitos aplausos após a sessão.
Após Deep Dive, de Pedro Arruda, e Frequências, de Adalberto Oliveira abrirem os curtas pernambucanos da noite, Insone, de Débora Pinto e Breno Guerreiro, foi ovacionado pela plateia, claramente deixando todos muito animados para continuarem assistindo às obras seguintes. Apesar de ter a breve duração de dois minutos, o curta de animação demonstra excelência em sua estética e sucinta narrativa.
Universo Preto Paralelo, de Rubens Passaro, traça um paralelo entre o passado escravagista brasileiro e a ditadura militar com fortes depoimentos de torturadores dados à Comissão Nacional da Verdade. Com uma ótima disposição de imagens de arquivo, áudios e artes de época, o curta possui força de sobra ao abordar temas tão hostis para a sociedade e que precisam, mais do que nunca, ser discutidos com afinco. É extremamente triste ver a contemporaneidade do curta em meio a tantas representações de outro século, mas ao mesmo tempo é isso que traz tanto dinamismo e vigor.
Peripatético, de Jessica Queiroz, conta a história de três jovens da periferia de São Paulo: Simone, Thiana e Michel. O trio se conhece desde que eram crianças e compartilham frustrações como a procura do primeiro emprego, do vestibular e todas essas questões que permeiam a juventude. Essa poderia ser uma história bem encaixada no contexto de Coming of Age se não fosse pelo fato da diretora inserir um acontecimento histórico em seu curta: os Crimes de Maio de 2006, que mataram mais de 560 pessoas – sendo elas, em sua grande maioria, civis. Assim como Universo Preto Paralelo, o curta figura entre as obras mais importantes social e politicamente nesta edição do Cine PE.
Lençol de Inverno, de Bruno Rubim, é uma ficção que trata o relacionamento conturbado de dois irmãos, um sendo da cidade grande e o outro do campo. Com tom sóbrio e muito profundo, o curta também fala sobre revisitar histórias do passado e lidar com o peso de algumas delas. O toque apurado prende a atenção desde o início. Vale a pena destacar Roney Villela, que interpreta o coveiro José.
Não Falo Com Estranhos, de Klaus Hastenreiter, fechou a noite de curtas com uma história descontraída, colorida e bem jovial. Ambientada na sala de espera de um consultório, vemos o lado mais romântico e idealizador de Gabriel, um jovem que pensa demais mas que tem medo de agir com relação a assuntos do coração. Bem construído e com uma coordenação de cores e enquadramentos criteriosa, o curta divertiu a plateia e trouxe ares leves para o fim de mais uma noite.
O longa metragem da noite foi Henfil, da diretora Angela Zoé, que apresenta a trajetória do nada convencional e genial cartunista e ativista. Em pouco mais de 70 minutos somos transportados para dentro do universo de Henfil, seja ouvindo depoimentos de amigos (como Ziraldo) quanto vendo fotos e vídeos de arquivo pessoal. É praticamente impossível não sentir empatia pelo artista, mesmo que você não conheça sua história antes de começar a assistir o longa. O trabalho que a diretora teve em escolher quais momentos destacar e quais os principais pontos a serem abordados com mais atenção (como seu trabalho e dinâmica n’O Pasquim e seu ativismo político). Sua passagem pelos Estados Unidos, que o inspirou a escrever o livro Diário de um Cucaracha, também é tratada com capricho. Henfil é uma obra feita com muito apreço e delicadeza – mas que não esquece de demarcar o lado irreverente desta cativante figura que marcou a cultura pop brasileira.
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