Crítica: Alien – Covenant

Crítica: Alien – Covenant

Há quem diga que Ridley Scott perdeu o jeito com o filme Prometheus (2012), ainda mais se lembrarmos da qualidade inquestionável de um de seus melhores filmes (e o segundo de sua carreira): Alien (1979). Porém, há algo positivo na ideia de se contar a história que ocorreu antes do oitavo passageiro surgir e aterrorizar a todos. Em Prometheus, fomos apresentados a uma nova equipe que tinha como missão descobrir a origem da humanidade e, por consequência, dos Engenheiros. Agora, em Alien: Covenant (2017), temos a sequência da prequela, que tem como principal pergunta a seguinte: “Os homens criaram os robôs, mas quem veio antes disso?”.

O filme, dirigido por Scott e escrito por John Logan (Penny Dreadful) e Dante Harper, toma forma quando os tripulantes da nave Covenant mudam a rota de sua extensa viagem após ouvir um sinal humano vindo de um planeta próximo, que teria as condições necessárias para abrigar vida humana. Tanto a nave quanto a tripulação fazem parte de uma missão importantíssima para a humanidade: chegar ao planeta Origae-6 e deixar as duas mil pessoas que estão a bordo da nave para colonizá-lo. Um novo planeta, uma nova esperança. É assim que os tripulantes enxergam a missão, mas tudo muda quando este novo planeta aparece. Curiosos e com a sensação de que este local desconhecido pode ser adequado para os humanos, a equipe investiga o misterioso local e nem imagina o que os espera.

A tripulação é composta por Daniels (Katherine Waterston, a nova Ripley?), o ciborgue Walter (Michael Fassbender, que també reprisa como David) Oram (Billy Crudup), Tennessee (Danny McBride), Lope (Demian Bichir), Karine (Carmen Ejogo), Ricks (Jussie Smollett) e Upworth (Callie Hernandez), e a história se passa no ano de 2104, dez anos após os eventos de Prometheus. Como fã da antologia, encaro como promissora a ideia de explicar a mitologia por trás de Alien, por mais que Prometheus não seja o filme mais querido do público e até hoje sofra por tal reprovação. O que alguns deixam passar batido é que essa abordagem possui um tom filosófico que torna tudo mais curioso e diferente, e este mesmo tom está presente em Covenant, com reflexões que partem, principalmente, do personagem de Michael Fassbender (que foi apresentado em Prometheus). Ainda por cima, a trama avança bastante de um filme para o outro e algumas dúvidas já podem ser deixadas para trás.

Dá para ver qual foi a razão que fez Ridley Scott retornar a este universo apavorante: expandir a história – porque há muita história para criar –, mas o que também dá para perceber é que ele não (re)encontrou o foco que poderia muito bem tornar Covenant um filme nível Alien: O Oitavo Passageiro, que brilha em sua simplicidade. Isso é um defeito? Não necessariamente, porque a história deste capítulo é boa o suficiente para prender a atenção, apoiando-se nos personagens de Fassbender. Suas indagações e perspectivas são surpreendentes e dão toda a dramaticidade e peso para a narrativa, além de seus propósitos serem transmitidos de maneira marcante por Scott (apesar de que mais tempo em tela dessa perspectiva seria mais do que bem-vindo).

O diretor tentou igualar o peso entre honrar o terror e ampliar seu terreno, e isso fez sua mensagem ficar um tanto quanto embaçada – mas ainda assim é possível aproveitar momentos bem violentos e que nutrem seu legado para a ficção-científica. O que Alien: Covenant falha em transmitir é o terror constante, visto que ele era extremamente necessário pois a figura do Alien é mais do que presente aqui. Os momentos em que o Xenomorfo aparece de fato são bons, mas não causam o tanto de impacto que muitos devem estar esperando. A tripulação, porém, consegue passar todo o medo e a dúvida do que estão vivenciando, e isso aumenta a tensão. O destaque de Daniels devido seu protagonismo é forte e sua história é bem contada e inserida no aspecto geral, mas Walter e David são aqueles que puxam a atenção para si no desenrolar da história, principalmente porque a atriz Katherine Waterston não possui metade do carisma de Sigourney Weaver (Ripley) e nem da presença de Noomi Rapace (a Shaw de Prometheus).

Elenco na média (mas sem brilho), roteiro sem muitas surpresas e uma presença do bom e velho Alien que passa longe de ser magistral, tornando-se até mesmo aquele velho vilão de filmes slasher em alguns momentos… Tire tudo isso, e o que resta? Como já citei aqui: a abordagem filosófica. Os vários “por quês” são questões muito trabalhadas nesse capítulo da franquia e a explicação deles não deixa a desejar.

O potencial real de Alien não foi atingido completamente, mas a ponte que liga Prometheus com o restante da franquia se solidificou em Alien: Covenant. De qualquer maneira, este é um filme que dividirá o público. Não chega ao ponto de ser regular e nem merece ser visto como um fracasso; ele é apenas falho por conta de um roteiro que transparece elementos conhecidos como “mais do mesmo” e que não possui twists que surpreendem. Essa prequela é necessária para o cinema? Pode até ser que não, mas ao menos ela entrega um material decente e que deixa um bom gancho no final.

FICHA TÉCNICA
Direção: Ridley Scott
Roteiro: John Logan e Dante Harper
Elenco: Amy Seimetz, Benjamin Rigby, Billy Crudup, Callie Hernandez, Carmen Ejogo, Danny McBride, Demián Bichir, Goran D. Kleut, Guy Pearce, James Franco, Jussie Smollett, Michael Fassbender, Noomi Rapace, Uli Latukefu
Produção: David Giler, Mark Huffam, Michael Schaefer, Ridley Scott, Walter Hill
Fotografia: Dariusz Wolski
Montador: Pietro Scalia
Trilha Sonora: Jed Kurzel
Duração: 122 min.

Barbara Demerov

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