Crítica: Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa

Crítica: Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa

Salva até mesmo das críticas negativas que assolaram Esquadrão Suicida, a Arlequina interpretada por Margot Robbie virou uma poderosa carta na manga para a DC/Warner. A personagem começou a ser considerada para diversos projetos dentro do estúdio e sua capacidade de segurar o protagonismo de uma história e render dividendos na bilheteria é testada pela primeira vez neste Aves de Rapina. A julgar por ele, a atriz pode se preparar para vestir o uniforme colorido da vilã bastante daqui para a frente.

Dirigido por Cathy Yan (apenas em seu segundo longa-metragem, o primeiro blockbuster), o filme acerta ao não ser uma história de origem da Arlequina, mas sim uma demonstração de sua personalidade caótica e um conto sobre mulheres unindo forças para derrotar um inimigo comum.

Chama a atenção a escolha do script por não incluir um excesso de frases explícitas sobre empoderamento feminino, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Mulher-Maravilha e Capitã Marvel. A simples presença de heroínas (e anti-heroínas) nas posições centrais, comandadas por uma diretora e uma roteirista, Christina Hodson, já é recado claro o suficiente.

Sem a pretensão de mandar uma mensagem social, Aves de Rapina carrega no glitter e nas cores neon, fotografadas pela lente de Matthew Libatique, o colaborador habitual de Darren Aronofsky. Isso dá ao filme um tom cartunesco e divertido, que mesmo sem ir para o escracho absoluto de Deadpool, acaba servindo como um agradável respiro a um gênero que normalmente tende a se levar a sério demais, ocasionalmente tentando impor um grau de solenidade que, francamente, fica difícil de engolir quando lembramos que estamos apenas diante de homens e mulheres vestidos em fantasias caras.

A completa irreverência da Arlequina é saudável, mas, como a própria Margot Robbie disse em entrevista à Barbara Demerov no AdoroCinema, tê-la como a bússola moral do filme seria um pouco irresponsável. Ou então, forçaria a trama a fechar seu arco com algum tipo de redenção, o que tiraria a força do resultado final.

Assim, torna-se fundamental a entrada em cena de figuras como a Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) e a detetive Renee Montoya (Rosie Perez). Todas têm seus próprios “fantasmas” de quem precisam se emancipar, e suas motivações são de certa formas mais nobres – o que libera Arlequina para ser apenas uma agente do caos, sem peso na consciência.

As cenas de ação bem coreografadas e a trilha sonora repleta de hits do rock feminino, por mais que não sejam totalmente originais, complementam de forma eficiente a atmosfera. Assim como a personagem de Robbie, Aves de Rapina não quer uma responsabilidade maior do que a de agitar um pouco o cenário e se manter de pé para viver novas aventuras. Missão bem cumprida.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil