Crítica: A Bela e a Fera
Vivemos em uma época curiosa, que retira do passado sua maior força. Remakes daqui, remakes dali… é intrigante e ao mesmo tempo estranho, pois da mesma forma que ficamos animados com o anúncio de um filme considerado clássico (sobretudo animações da Disney, como Mogli, Cinderela, e até mesmo a releitura de A Bela Adormecida, Malévola), é inevitável sentir aquela pontinha de receio quando se trata de uma obra que marcou gerações e que se mantém firme como uma pedra nos quesitos qualidade e emoção. Dei estes exemplos da Disney pois, hoje, vamos falar sobre uma obra atemporal da Casa do Mickey: A Bela e a Fera.
Considerada por muitos (eu inclusa) como uma das melhores animações de todos os tempos, a história de amor que vai além das aparências foi lançada em 1991 e se tornou a primeira animação a ser indicada a um Oscar na categoria mais cobiçada: a de Melhor Filme. Por já ser um clássico atemporal, era claro que, aproveitando a onda dos remakes em live-action e da necessidade que a Disney possui em reavivar seus clássicos, a animação seria uma das escolhas mais emocionantes que o estúdio teria para adaptar neste século. E foi o que aconteceu. Após quatro anos de produção, uma campanha de marketing impecável e muita nostalgia no ar, A Bela e a Fera é mais uma peça do quebra-cabeça da Disney que se concretiza como live-action. Mas será que o filme é ainda melhor que o original? Vamos lá!
O filme do diretor Bill Condon (Sr. Sherlock Holmes) transparece tudo aquilo que a animação de 1991 é, principalmente no visual, que é impecável. Desde a pequena aldeia onde Bela mora até os mínimos detalhes do castelo de Fera, tudo tem um nível altíssimo de qualidade, bem nos padrões Disney que já estamos carecas de ver. Quando vamos um pouco mais a fundo, vemos que o roteiro é basicamente idêntico ao da animação, apenas modificando um elemento aqui e ali a fim de conciliar a história para uma nova geração. São detalhes que, no plano geral, trazem um frescor à trama.
Em A Bela e a Fera, somos (re)apresentados a Bela (Emma Watson), uma jovem humilde e inteligente que vive com seu pai Maurice (Kevin Kline) em uma pacata aldeia na França. Bela tenta, mas não se conforma com a vida do interior e almeja viver uma vida de maneira destemida, assim como sua mãe (que faleceu quando a protagonista ainda era um bebê). Ainda por cima, Bela precisa se esquivar todos os dias do insistente Gaston (Luke Evans, perfeitamente desenvolvido), que vive a pedindo em casamento, e também da população preconceituosa que a vê como uma estranha totalmente fora dos padrões. Ela vive em seu mundinho cheio de livros e pequenas invenções (detalhe que o novo roteiro traz), mas sua vida muda quando seu pai sai em uma de suas expedições anuais e acaba encontrando o castelo do Príncipe/Fera. Ao ver que seu pai pode estar correndo perigo, Bela parte em sua busca e acaba conhecendo este novo mundo. Quando descobre que seu pai se tornou prisioneiro de um “monstro” no castelo, troca de lugar com ele após enfrentar a Fera. O resto, nós já sabemos…
Como já afirmei, o visual de A Bela e a Fera é um dos pontos altos e transporta imediatamente o espectador para aquele universo, sendo tecnicamente impossível encontrar algo que desagrade. O mesmo vale para as sequências musicais, que estão divertidas e dão o peso necessário para a história se reafirmar como uma das mais belas da Disney – a única ressalva talvez seja Be Our Guest, que possui efeitos de mais e emoção de menos. O melhor número musical certamente vai para Gaston, que é extremamente bem coordenado e muito (mas muito) divertido. Gaston e LeFou (Josh Gad, com ótimo timing), são os personagens que mais surpreendem – tanto por serem parecidos com os da animação como pelo ótimo desempenho em dupla.
E é claro, a cena de abertura do filme é um deleite em todos os sentidos; seja por conta das semelhanças com a animação, pela direção de arte ou simplesmente porque a belíssima voz de Emma Watson simplesmente nos aproxima ainda mais de tudo que nos é apresentado. Então, se você sabe todas as músicas de cor, prepare-se para cantar mentalmente e se pegar sorrindo para a tela uma vez ou outra. Sim, tudo é realmente tão bonito a ponto de querermos sorrir para o filme.
Um dos aspectos que tornaram o longa ainda mais aguardado é o elenco. Desde que Emma Watson (eterna Hermione Granger) foi anunciada como Bela, o hype foi parar nas alturas. Posteriormente, quando Luke Evans, Kevin Kline, Dan Stevens, Ewan McGregor, Emma Thompson e Ian McKellen foram escalados, tanto público quanto crítica passaram a ver que as escolhas poderiam realmente ser perfeitas para o longa. De certa forma, a Disney acertou. Digo “de certa forma” pois há alguns pontos que não dá para passar reto.
Surpreendentemente, minhas observações vão justamente para Bela, que, ao contrário da animação, não passou tanta força ou emoção em momentos considerados chave (por exemplo, em suas cenas finais com a Fera). O lado mais “Bela” que vi em Emma foi nos momentos em que ela está na aldeia, mas durante o período que vive no castelo, há passagens em que ela não se porta como aquela jovem atrevida e extremamente curiosa. A atriz deu seu próprio toque à sua personagem, o que traz algo novo e muito bem-vindo ao filme; mas, infelizmente, por mais meiga e corajosa que se apresente, ela cativa, mas não consegue se provar como a Bela perfeita – diferente de Lily James em Cinderela.
Com relação aos personagens que trabalharam com base nos efeitos especiais, o destaque, sem dúvidas, vai merecidamente para a Fera de Dan Stevens. O ator trabalhou seu personagem de forma mais leve do que na animação e mostra mais insegurança do que ameaça (seu próprio rosto já mostra isso, sem as grandes presas e o aspecto selvagem). Somente pela aparência já é difícil ter medo dele, mas o próprio roteiro também ameniza seu lado sombrio ao tratá-lo como um jovem que cresceu sem a mãe. Além disso, a Fera adora ler e inclusive passa um bom tempo na companhia de Bela pesquisando as obras de sua própria biblioteca. A captura de movimentos trazem mais veracidade a Fera, assim como os ótimos efeitos gráficos e design de produção. Surpreendentemente, Fera cativa mais do que a própria Bela!
E é claro que não podemos esquecer de Lumière, Cogsworth, Mrs. Potts, o pequeno Chip, Plumette, Maestro Cadenza e Madame de Garderobe, que transbordam carisma e fofura como os moradores do castelo de Fera que vivem na esperança de voltarem à forma humana. Tanto na questão entretenimento quanto na questão de efeitos gráficos, eles não decepcionam e tornam a alma do castelo ainda mais mágica e especial. A Bela e a Fera acerta em cheio nos quesitos ambientação, efeitos, figurino e, claro, trilha sonora (Emma Thompson é uma cantora incrível!). Já fica registrada a torcida para o Oscar 2018.
A Bela e a Fera é uma adaptação feita para os fãs do desenho animado e não falhará na missão de cativar este público. Como não é possível agradar a todos, uma parte dele certamente continuará preferindo a animação, mas o fato é que o live-action deste conto de fadas diverte e emociona nas medidas perfeitas (como na icônica cena da valsa). Existe muito sentimento no filme de Bill Condon, por mais que sua direção não ouse tanto. Mas com tudo tão harmonizado (elenco, efeitos especiais, roteiro e trilha sonora) é difícil não sair da sala de cinema com os olhos marejados. Ao contextualizar essa história de amor para os dias atuais, a Disney acerta novamente por tornar tudo mais crível. Agora, resta-nos aguardar por O Rei Leão, Aladdin e A Pequena Sereia!
FICHA TÉCNICA
Direção: Bill Condon
Roteiro: Stephen Chbosky
Elenco: Audra McDonald, Dan Stevens, Emma Thompson, Emma Watson, Gugu Mbatha-Raw, Ian McKellen, Josh Gad, Kevin Kline, Luke Evans
Produção: David Hoberman, Don Hahn, Todd Lieberman
Fotografia: Tobias A. Schliessler
Montador: Virginia Katz
Trilha Sonora: Alan Menken
Duração: 129 min.
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