Crítica: Brooklyn
Saoirse Ronan é o coração do filme Brooklyn, do diretor John Crowley. Sua interpretação meiga e forte transparece muito bem as nuances de sua personagem irlandesa que emigra para os Estados Unidos na década de 1950. Eilis Lacey (Ronan) sai de sua pacata terra natal em busca do sonho americano em Nova York, no bairro do Brooklyn, pois lá as chances de trabalho e estudo eram inquestionavelmente melhores na época. A protagonista vive as dores da saudade e da culpa por ter deixado sua família (sua mãe e irmã mais velha) enquanto tenta aproveitar seu novo lar, seu novo emprego e seu curso na faculdade do Brooklyn, tudo graças ao padre Flood (Jim Broadbent), amigo de sua família. Mesmo com tudo dando certo na América, Eilis ainda assim não se sente confortável estando a um oceano de distância de sua família… até que conhece o italiano Tony (Emory Cohen, muito bem no papel) e, enfim, começa a se entregar para o que está diante de seus olhos.
O interessante em Brooklyn é que o filme não conta apenas uma história de amor à moda antiga, pois a temática da imigração, assim como o conflito da vida nova com a vida antiga da protagonista, são detalhes tão importantes e apaixonantes quanto o romance de Eilis e Tony. Tudo na trama é construído de maneira sutil e marcante: o dia-a-dia simples e sem muito futuro de Eilis na Irlanda, o triste adeus à sua família, a difícil viagem de navio para a América e o choque de estar em um lugar novo, longe de todos que a amam. E, posteriormente, a reversão da situação, com Eilis precisando voltar à sua terra natal e se encontrando dividida entre o lugar das oportunidades (onde Tony se encontra) com o lugar que sempre se sentiu segura e que está bem diferente de quando o deixou para trás.
A jovem Saoirse Ronan, que já foi indicada ao Oscar por Melhor Atriz Coadjuvante em Desejo e Reparação (2007), brilha como Eilis em mais uma atuação sensível em sua carreira. Outro fator que ajuda o trabalho da atriz é a câmera que está quase sempre próxima de seu rosto, fazendo o espectador entender o que ela está dizendo com suas expressões e com seus lindos olhos azuis. Sua ingenuidade logo vai dando espaço para a maturidade, fazendo-a discernir o certo do errado, e Ronan consegue expressar facilmente tais mudanças.
A atmosfera e ambientação do filme é sobretudo alegre, mesmo que mostre alguns aspectos tristes da imigração no Brooklyn, dando o exemplo de irlandeses idosos que agora são moradores de rua. A fotografia de Yves Bélanger traz à tona ambientes e roupas com tons de cores que, além de captarem bem a essência dos anos 50, se destacam e dão uma certa esperança mesmo quando tudo parece ruir na vida de Eilis.
Diferente do filme A Imigrante (2014), que retrata a vinda de uma polonesa para a América antes da II Guerra Mundial e todos os seus desafios para se manter no país, Brooklyn mostra a trajetória de uma jovem que conquistou muitas coisas nos Estados Unidos, mas que precisa decidir qual (ou quem) é seu verdadeiro lar para construir seu futuro.
Brooklyn está em exibição nos cinemas e foi indicado à três categorias no Oscar 2016: Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado.
FICHA TÉCNICA
Direção: John Crowley
Roteiro: Nick Hornby
Elenco: Barbara Drennan, Brid Brennan, Eileen O’Higgins, Emily Bett Rickards, Emma Lowe, Eva Birthistle, Eve Macklin, Fiona Glascott, Gillian McCarthy, Jane Brennan, Jim Broadbent, Julie Walters, Maeve McGrath, Mary O’Driscoll, Matt Glynn, Nora-Jane Noone, Saoirse Ronan
Produção: Finola Dwyer
Fotografia: Yves Bélanger
Montagem: Jake Roberts
Ano de lançamento: 2015
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