Crítica: Colette

Crítica: Colette

A mulher que não cabia em apenas um corpo

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Satisfatória é a evolução do trabalho do cineasta Wash Westmoreland em Colette, se comparado com seu projeto anterior Para Sempre Alice, estrelado por Julianne Moore. Certamente não existe nenhuma performance em seu novo filme, sobre a escritora/jornalista/atriz francesa Sidonie-Gabrielle Colette, que tenha conseguido bater de frente com o apuro técnico de Moore ao interpretar uma mulher diagnosticada com Alzheimer. Contudo, todo o restante foi aprimorado, especialmente a dinâmica e a interlocução entre as personagens.

O primeiro longa de Wash Westmoreland sem seu companheiro de trabalho, e também da vida pessoal, Richard Glatzer, que faleceu em 2015 em decorrência de complicações relacionadas à esclerose lateral amiotrófica (conhecida como ELA), narra a trajetória de vida da jovem Colette (Keira Knightley) que se apaixonou por Willy (Dominic West), renomado escritor e crítico musical do fim do século 19. Depois de casados, Colette que tinha talento para a escrita, começa a escrever em parceria com seu marido, porém, apenas ele fica com os créditos de todo o material. Assim aos poucos Colette vai abrindo as asas e descobrindo-se uma nova pessoa que anseia cada vez mais por uma voz própria.

Inegável não notar algumas irregularidades de ritmo em Colette, mas felizmente, estas se encontram apenas na primeira parte da trama. Não demora ao filme de Westmoreland encontrar seu eixo, e saber se utilizar dele com vibrante energia, além de um toque de graça que torna a obra muito agradável de se acompanhar.

O texto escrito por Glatzer antes de sua morte, também em parceria com seu companheiro e Rebecca Lenkiewicz, consegue desenvolver com clareza as mudanças e transformações de Colette, sem apressar ou deixar arrastar, e criam para a dupla de atores Keira Knightley e Dominic West, terreno fértil para desfilar o mundo de complicações e prazeres que foi este casamento.

O mais cativante é que quanto mais rocambolesca e confusa é a relação do casal, mais atrelado à história sente-se, como por exemplo, as aventuras sexuais extraconjugais de ambos que até mantinham a relação mais amistosa, no casamento e nos negócios naquele momento. Toda essa pulsão do material em Colette só pôde ser tão exaltada porque o duo britânico formado por Knightley e West possui sinergia suficiente para levar a narrativa para frente.

Não é surpresa que a atriz, já indicada duas vezes para o Oscar, consiga dar conta do recado. Basta lembrar de obras como Desejo e Reparação, Mesmo se Nada Der Certo e Um Método Perigoso para saber que Knightley quando bem dirigida consegue entregar mais do que se espera. Quem surpreende aqui é Dominic West, talvez em sua melhor performance na carreira, com um personagem que consegue ser carismático até quando faz, diz ou comete qualquer uma de suas bobagens, sejam estas ligadas aos seus vícios ou pelo narcisismo de sua personalidade.

Interessante a linha de pensamento observada sobre seu personagem Willy, claramente, um homem desleixado no quesito relações (além de muito elitista), porém, não pode-se negar seus talentos e até grande sensibilidade artística. Tanto que viu em Colette algo de força da natureza que seria capaz de atrair a atenção dos leitores, e tinha toda a razão, e a ajudou nessa escalada, tentando polir um pouco de sua escrita, e isso funcionou enquanto funcionou.

Mas, como toda grande força natural, Colette não poderia ser contida, e assim começou a se revelar o que e quem seria esta mulher que tornou-se um símbolo feminino de maior referência, indicada ao prêmio Nobel, e autora de Gigi, uma das mais importantes novelas escritas.

Ao final, Colette é sobre as mulheres que não cabem em seus corpos, e buscam os meios para espalhar o que pensam e sentem além dos limites impostos.

Alexis Thunderduck