Crítica: Emoji – O Filme

Crítica: Emoji – O Filme

Emoji O Filme é necessário. Ou melhor, inevitável. Pessoalmente, até tenho orgulho de sua existência. Após tantos anos de tentativas de fazer dinheiro em cima de marcas que nada tinham a adicionar à arte cinematográfica, Hollywood atingiu um novo marco com a animação de Tony Leondis. Sim, sim, Emoji O Filme é uma U+1F4A9 , sem mais. Sua existência, porém, pode enfim expor o cinismo hollywoodiano em sua forma mais pura, merecendo, apenas por isso, ser discutido por anos e anos.

Claro, Hollywood sempre conseguiu ser uma máquina cínica, mas enquanto outros produtos ao menos tentavam esconder suas intenções por trás de algum cânone apressado ou um realizador talentoso, Emoji O Filme sequer se dá ao trabalho de mascarar suas metas mais podres. Dá até pra falar que é um dos longas mais involuntariamente anti-capitalistas até hoje, mas não estou tão disposto assim a ficar político. Além disso, é só um filme infantil, certo? Bom…

Ao longo dos anos perpetuamos a noção de que entretenimento infantil tem um passe livre para ser incoerente, mal-feito ou concebido. Por quê investir em uma boa história se podemos criar um show de luzes e cores que distraiam os mais novos por pouco menos de 90 minutos? Emoji O Filme está aqui como um alerta de que precisamos encontrar outras maneiras de entreter as crianças.

O próprio longa não esconde sua visão bastante redutiva do público alvo: que crianças e pré-adolescentes são inerentemente desatentos e obcecados por eletrônicos. Ok, ok, o uso frequente de aparelhos realmente pode afetar o desenvolvimento da criançada, mas Emoji O Filme, que de início esboça um leve comentário sobre o tema, parece querer alimentar e se aproveitar dos piores efeitos da tecnologia, existindo de maneira contraditória e até mesmo desonesta.

A narração inicial constata que emojis são a invenção mais importante da história da comunicação. Claro, a frase vem dentro do contexto de que o próprio narrador é um emoji, vivendo em um mundo ficcional. Porém, quando o principal ponto da trama de um filme é sobre mandar o emoji correto para a crush, é quase impossível fazê-lo sem subestimar a inteligência de seu público. Fica a impressão de que os roteiristas não conhecem de fato a maneira como todos nós, não só as crianças e adolescentes, fazemos uso de emojis.

Estou levando isso tudo a sério demais? Talvez, mas cara… eles (os TRÊS roteiristas) sequer tentaram. A falta de noção do filme pelo menos garante uma alternativa de prazer culposo pra se apreciar com os amigos (e algumas cervejas). Ainda em dúvida? Em certo momento do filme, somos apresentado às coisas obscuras que o “protagonista” Alex esconde de seus pais: trolls de internet e Twisted Sister (sim, a banda de glam metal). Qualquer obra que tenha uma noção tão bizarramente distorcida da realidade merece ser apreciada de maneira igualmente… distorcida ; – ) .

Olha, ainda dá pra rachar Emoji O Filme de diversas maneiras, cada uma 10 vezes mais criativa que o longa inteiro. Mas sabe, ao final do dia, o novo produto da Sony Pictures Animation é simplesmente mais uma tentativa entre tantas de capitalizar em cima de praticamente qualquer coisa com uma ™ no nome. Uma Aventura LEGO™ e LEGO Batman já estão aí pra provar que qualquer coisa é possível com uma equipe talentosa. Emoji O Filme, contudo, nos faz questionar se essa tendência devia sequer ter recomeçado. Mas uma coisa é certa: $$$.

O público infantil merece bem mais que isso. Já os crescidos podem se divertir com Atômica ou Pequeno Demônio sem o custo adicional dos óculos 3D.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.